26 de Novembro, 2014

Casa? Investir ou utilizar?

Massimo Forte

Casa? Investir ou utilizar?

Durante anos assisti e convivi com este dilema através de quem queria casa. Mas afinal de que se trata este dilema? Pois, de facto há uns anos atrás, no momento em que as pessoas que queriam casa compravam, não havia dilema, pelo contrário, todos nós andámos durante mais de 20 anos certos de uma lógica de compra de casa incutida na nossa cultura de posse, se não vejamos, quem não pensou ou ouviu esta frase: “não arrendes, isso é deitar dinheiro à rua”.

No entanto, nos últimos tempos parece que a frase começou a mudar… ou por outra, as pessoas já não estão tão certas como pareciam há uns anos atrás de que a compra era um investimento mais que certo e assegurado para o futuro com total garantia de ganhos, logo quem comprou estava perfeitamente convencido de que estava a fazer bem. Ouvimos muitas vezes a frase “compre uma casa pois ela nunca desvalorizará”.

Pois bem, espantem-se os mais céticos, quem comprou cheio de certezas, vê-se agora em apuros para vender a sua casa e conseguir pelo menos o dinheiro que deu de volta, ou ainda, aqueles que não conseguindo vender, ou até mesmo não querendo vender, estão agora confrontados com mais um novo dado, o aumento do IMI.

Mas então o que se passou?

Na minha opinião, o que se passou é que durante muito tempo comprou-se casas com o objetivo de as utilizar, no caso da habitação própria permanente para satisfazer uma necessidade primária, no caso da 2ª habitação, para satisfazer uma também uma necessidade de utilização, mas neste caso já quase como bem supérfluo. A questão é que, quando se fizeram estas aquisições esquecemo-nos de uma palavra: Investimento.

Cada vez que eu compro uma casa, estou inevitavelmente a investir, mesmo que o objetivo seja apenas a pura utilização de um bem, tal como acontece nos automóveis, contudo, todos nós sabemos que o investimento num automóvel tem apenas a ver com a sua utilização, pois esse tipo de bem desvaloriza-se e desgasta-se de forma frenética e sistemática nos primeiros 4 anos da sua vida, e só passados cerca de 20 anos, se sobreviver, poderá tornar-se um histórico e voltar a valer algo.

Mas o mercado das casas não funciona dessa forma tão assertiva, têm também desgaste e também requerem manutenção, mas sobretudo, também desvalorizam e valorizam, só que os ciclos destes acontecimentos variam oscilando de forma irregular e imprevisível, e muitas vezes não estão em sintonia com a nossa utilização, ou seja com a nossa vida.

Por exemplo, imaginem que algo aconteceu na vida de uma pessoa que inevitavelmente a faz mudar de casa (mais um filhos, divórcio, mudança de localização do trabalho) no momento desta necessidade, o imóvel poderá valer menos do que o valor que essa pessoa o adquiriu, a isto chama-se risco, que é outra palavra que está intimamente ligada ao investimento e faz com que uma compra não possa apenas ser encarada com o objetivo da utilização da casa.

Mas então, como é que eu posso ter uma habitação e não correr riscos?

Possivelmente se sou apenas um utilizador, e não quero de todo ter risco, nem muito menos pretendo efetuar um investimento, poderei sempre arrendar. Solução onde a pessoa paga apenas pela utilização do bem, não se preocupando com despesas de aquisição, manutenção e impostos, mas sobretudo, não tem grande risco, ou risco nenhum ao nível do capital, até porque não se investe nada.

Podemos concluir que felizmente, existem duas opções quando se fala de necessidade de habitação. Uma é a compra, que implica um determinado risco mas também um possível retorno a médio e longo prazo, em certos casos quase uma poupança forçada, possivelmente melhor do que qualquer PPR; a outra opção que não implica risco mas também não obtém retorno, é a de utilizador, ou seja, a opção arrendamento.

Mas a pergunta impõe-se, qual das duas afinal será a melhor?

Na minha opinião ambas são válidas, tudo depende da disponibilidade e situação da pessoa que tem de optar. Se ainda não tem a sua vida definida e sabe que daqui a 2 ou 3 anos, ou menos (curto prazo) possivelmente mudará e sabendo ainda que o mercado está numa tendência de baixa de preço, possivelmente a opção arrendamento será mais interessante, pois anula o risco e melhora a mobilidade de uma eventual mudança; a menos que tenha um forte espirito investidor e queira arriscar, pois tem um feeling ou alguns indicadores importantes que lhe sugerem um aumento de valores nesse prazo.

Se a ideia é ficar mais anos, pois não prevê grandes mudanças na sua vida, e mesmo que algo aconteça poderá sempre manter a habitação que vai adquirir, então será melhor comprar, logo será um investimento com menos risco, devido a existir mais hipóteses de valorização do bem (o imobiliário é um investimento de médio e longo prazo).

Concluindo, quando alguém compra casa, tem sempre os dois lados a funcionar, o lado emocional, que se refere à utilização da casa, e o lado racional que deverá funcionar na ótica do investimento, o problema é que nem sempre as duas coisas andam juntas…

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