28 de Janeiro, 2015

Lobbying, networking ou cunha?

Massimo Forte

Lobbying, networking ou cunha?

Já há algum tempo que pensava em escrever algo sobre este fenómeno do relacionamento entre profissionais competentes (uns mais, outros menos), que gerem o seu relacionamento com a perspectiva de obter vantagens ou de influenciarem decisões, até aqui, nada a dizer, o problema é que esta gestão obedece a códigos e regras, que na maioria dos casos são desconhecidos, ou mesmo propositadamente ignorados, tornando a intenção de gestão de relacionamentos desprovida de princípios e sem barreira de meios para atingir fins.

Hoje escrevo particularmente sobre os dois maiores desafios externos que podemos encontrar quando formamos uma empresa, ou quando pretendemos dar início a um projecto: a concorrência (ultrapassável com competência); e os lobbies existentes na área (ultrapassável com lobbying, networking ou, com cunha…).

Em relação ao primeiro desafio, existem regras, princípios e atitudes, algumas até regulamentadas e que nos permitem definir estratégias de actuação. Pode contudo haver concorrência desleal, definindo-se qualquer acto contrário às normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade.

Quando falamos de lobbies, a coisa muda, as empresas que controlam e fazem lobbying costumam ter uma pessoa, ou mesmo departamento denominado de RP Relações Públicas, cujo seu grande objectivo é o de potenciar e apoiar a sua vantagem competitiva e actividade comercial, planeando relacionamentos estratégicos e pertinentes, monitorizando as atitudes dos clientes e distribuindo informação e comunicação que proporcionem influência a seu favor ou dos seus interesses.

Nos países Anglo-Saxónicos (EUA, Reino Unido, entre outros), o lobbying é considerado uma actividade assumida e profissionalizada, com regulamentação própria. Nos países latinos, e aqui inclua-se Portugal, o lobby continua a ser sinónimo recorrente de cunha, compadrio ou tráfico de influências, sem regras, sem limites, sem identificação clara de intervenientes.

Mas o mais engraçado, e arrisco-me a dizer de forma inconsciente, é que no nosso dia-a-dia promovemos muitas vezes lobbying, através de recomendações, pedidos feitos a pessoas influentes (por vezes amigos e até mesmo familiares) e muitas vezes a título de retribuição de favores.

Como é natural, não nos preocupamos muito da falta de ética, ou mesmo se estamos a infringir qualquer código deontológico, pura e simplesmente porque este não existe, prevalecendo apenas o bom senso e princípios que cada um de nós tem no que diz respeito a relacionamentos e contrapartidas.

Existem por isso, na minha visão, dois tipos de lobbying: o mau lobbying e o bom lobbying.

Vamos lá ver, não existe nenhum problema em utilizar o nosso networking para fazer lobbying e conseguir levar a bom porto ou mesmo mais longe os nossos objectivos, potenciando-os e ajudando alguém a obter vantagens com a realização destes, mesmo que essa pessoa seja um amigo, ou até um familiar. O que importa aqui, é que essa pessoa tem de ser competente, ou seja, tem de cumprir o seu papel. A esta influência eu chamo-lhe, o bom lobbying.

Na minha vida profissional de mediador imobiliário, e mesmo após esse período, tenho recebido imensas “pressões” de pessoas que me procuram a pedir ou oferecer algo por serem conhecidos ou amigos. Estive em várias posições do lobby, mas em todas elas agi da mesma forma, verificando se perante estas pessoas que contacto, ou que me contactam, estarei à altura de satisfazer as suas expectativas perante o que me solicitam, ou se terão elas know how e networking suficiente para satisfazer o que eu procuro?

Tentei sempre aplicar o bom lobbying, utilizando sempre o meu networking numa relação de win-win, sempre com provas dadas, com relacionamentos que perduram e que não se comprometem.

Para terminar, gostaria de vos fazer reflectir num dos significados da palavra cunha que de certeza não vai de encontro a um significado positivo, apenas porque, temos feito mau uso deste termo: Pessoa influente que pede em favor de outra com empenho. Empenho ou recomendação de pessoa importante ou influente

Por isso, façam bom lobbying e cuidem bem do vosso networking!!!

Artigo publicado no blog out-of-the-box

Partilhe a sua opinião