A bola de cristal do Inman Connect 25

É sempre um grande desafio prever o que vai acontecer, mesmo as pessoas mais sérias, rigorosas e especializadas já o deixaram de fazer.
Mesmo assim há sempre alguém que se atreve a fazê-lo e de certa forma ainda bem, pois se o fizer com base na experiência, análise dados, tendências e conjuntura, é sempre um ótimo exercício para nos desafiar a pensar e principalmente a agir de forma proativa evitando a necessidade de reagir, como muitas vezes acontece.
No mercado imobiliário, especialmente o nacional, o desafio é grande tendo em conta as características de falta ou opacidade dos dados, bem como a lentidão que o caracteriza, isto só para citar algumas das características mais impactantes.
No início do ano e como de resto nos últimos quatro, tenho assistido ao evento Inman Connect para avaliar tendências e tecnologia para a mediação imobiliária do mercado norte americano, mercado que considero como um dos melhores do mundo e por isso, um case study e evento imperdível para quem está na área.
Este ano, um dos variadíssimos workshops tinha o título de “The Crystal Ball 25”, obviamente despertou-me a atenção pelo título e promessa de conteúdo em que diversos analistas apresentavam em palco a sua perspetiva sobre previsões para o setor 2025 numa ótica informativa, não especulativa e muito menos esotérica (sem qualquer desprimor por essas atividades).
Sempre com muita prudência, estes especialistas colocaram a nu aquilo o que na opinião deles poderá acontecer em 2025 e principalmente que tendências poderemos vir a verificar já este ano:
Consolidação do mercado.
Apesar da procura ser ainda maior do que a oferta, e não existir, mesmo nos Estados Unidos, uma possibilidade recente que colmatar a escassez de produto, os preços não param de subir e por isso, tal como em Portugal, temos um grave problema de capacidade de compra, ou seja, a classe média, média baixa e baixa continuam e continuarão a ter cada vez mais barreiras à aquisição de imóveis para habitar. Mesmo com tendencial descida da Euribor e alguns incentivos do Estado (em Portugal, só para jovens), não se prevê como suficiente para estimular uma procura com maior disponibilidade financeira tendo em conta os preços que se praticam e vão continuar a praticar. Esta conjuntura pode provocar uma possível estagnação do mercado, o primeiro sinal será um mercado mais lento na absorção dos imóveis para venda, consolidação do número de transações e até possível descida, como de resto já tinha acontecido no início do ano passado. Uma eventual entrada de produto no mercado para este tipo de target, ou ainda uma nova dinâmica de produto para arrendamento, pode causar impacto, caso não se verifique nenhum estímulo, 2025 poderá ser uma réplica de 2024.
Agentes Imobiliários com mais acesso a IA
Apesar da Inteligência Artificial para o imobiliário já ser uma área em que se tem vindo a trabalhar há mais de 20 anos (mesmo em Portugal), verificou-se uma evolução da democratização e acesso na última década, mais prominente nos últimos 2 anos. Além da abertura a uma maior transparência de mercado, em oposição à característica típica deste mercado de opacidade, uma das grandes vantagens do uso da IA no imobiliário é o tempo, tempo para dedicar ao negócio e não a processos que tornam os Agentes cada vez mais eficientes e disponíveis para o que mais os pode diferenciar, a relação. Assim sendo esta tendência que veio para ficar, deverá ser abraçada pelos Agentes e Agências em maior número pois terá enumeras vantagens ao nível do valor que pode ser criado para a gestão de processos e sistemas operacionais. Quem não estiver atento e não tiver a capacidade de a perceber para incorporar na sua atividade, terá um desafio muito grande quando estiver a competir com pares bem mais atualizados e adaptados e que com menores estruturas, poderão proporcionar um serviço mais rápido, mais assertivo e mais simples para Agentes e Clientes.
Mercado de Luxo
Apesar de não existir um verdadeiro mercado de luxo em Portugal, existe um mercado premium. A tendência deste mercado é de crescimento pois não parece sofrer com o aumento de preços, mesmo comparado com mercados de outros países, o mercado premium de Portugal continua extremamente competitivo em relação ao valor vs produto/serviço oferecido. Vai existir, ou continuar a existir para quem já faz, uma tendência de criação de Equipas de Agentes Imobiliários mesmo neste mercado, que de certa forma resistia focando em Agências mais pequenas e com Single Agents. Segundo os especialistas do Inman Connect, vamos começar a observar a criação de equipas com Team Leaders, Brokers Empreendedores ou Top Producers (Agente Imobiliário com resultados extraordinários e sempre com uma equipa a trabalhar para ele) também neste segmento.
Broker, uma função em vias de extinção?
Não parece que isso venha a acontecer, apesar de existirem vários modelos sem Broker, apenas uma ou duas empresas parecem estar a crescer nos Estados Unidos (um mercado que permite escala), mas também estas têm inúmeros desafios. O maior desafio é e será o da liderança dada pelo suporte genuíno do Broker à sua Equipa ou Agência. A pressão do pagamento excessivo das comissões aos Agentes será o grande tema de uma eventual viragem para o reajustamento. O Agente Imobiliário profissional e experiente já entendeu pela experimentação que não consegue fazer tudo sozinho e que o suporte de uma equipa de apoio liderada por um Broker experiente nessa área, será fundamental, sendo que atividades como o mentoring ou coaching, são muito mais eficientes e eficazes quando feitas pelo Broker ou por alguém da sua equipa, logo, o Agente não pode aspirar ficar com toda a comissão se quiser permanecer de forma apoiada e mais eficiente neste negócio. Os modelos mais clássicos como o modelo 50/50, começam de novo a fazer sentido e tudo por uma questão de sustentabilidade de ambos (Broker e Agente), afinal, estão no mesmo barco. O Broker terá de desenvolver estruturas de apoio inovadoras aos seus Agentes e não tão somente ferramentas, sobretudo, terá de desenvolver suporte genuíno e autêntico à motivação dos seus Agentes incentivando-os a aspirar o máximo do seu potencial, esta será a chave para a sua sobrevivência: a relevância para os seus Agentes obtida pela mais importante de todas as suas funções, a liderança.
Artigo original de Massimo Forte