29 de Junho, 2022

Todos querem agentes imobiliários produtivos, mas só os melhores os sabem reter

Massimo Forte

No mercado em alta a mediação imobiliária acompanha a subida com o aumento do número de transações, número de novas licenças, número de novas lojas e consequentemente do número de agentes imobiliários.

Em alta todos querem saltar para esta atividade com a promessa de dinheiro rápido e fácil, todos querem ser agentes imobiliários, ou melhor, consultores imobiliários, e uma grande parte vai saltando de empresa em empresa e de marca em marca à procura da oportunidade até que percebem que não é rápido nem fácil acabando por sair sem a concretização do tal sonho e das tais promessas que algumas empresas e o próprio mercado parecem dar sem revelar que para ser um agente imobiliário produtivo é necessária formação, dedicação, entrega e muita atitude.

O que se passa afinal?

Será que isto acontece apenas em Portugal, ou também se vive a mesma situação noutros países?

Sempre inspirado na minha última viagem para formação em Nova Iorque, constatei que esta realidade acontece em quase todo o lado!

Vejamos, no geral a mediação imobiliária tem por base sistemas colaborativos de remuneração, ou seja, os agentes recebem única e exclusivamente pelos resultados da sua produção que se traduz em transações de angariação, venda, arrendamento e trespasse. A comissão da transação é dividida pelo percentual acordado entre agente e empresa de mediação imobiliária com quem colaboram, sendo que muitas vezes há ainda que ter em conta a alocação deste ganho a uma situação de partilha do negócio entre agentes/agências.

Este negócio depende única e exclusivamente dos resultados de quem exerce a atividade e muitas destas pessoas não têm bases empreendedoras porque na maioria das vezes transitam do mercado de trabalho dependente onde a remuneração é contínua, fixa e apenas em alguns casos fixa com variável o trabalho é baseado em tarefas e horas de trabalho e há uma gestão de recursos humanos hierarquizada que indica o rumo do negócio.

A incapacidade de mudar o paradigma de execução, para gestão do próprio tempo e negócio está na base do insucesso de muitas pessoas que entram para a mediação imobiliária.

Mas afinal, é ou não é possível criar agentes imobiliários produtivos perante este cenário?

A minha resposta é sim e vou até mais longe, é cada vez mais esse o papel do mediador, ou se preferirem, do Broker que é quem detém a agência imobiliária e quem tem a importante missão de selecionar, recrutar, formar e gerir empreendedores produtivos para atividade de mediação imobiliária.

O sucesso começa no recrutamento e o recrutamento tem de estar em linha com a cultura, ou seja, com a Visão, Missão, Valores e por consequência lógica, com o sistema da empresa de mediação.

Cada empresa deve seguir uma linha orientadora e desenvolver a sua própria cultura que a diferenciará das demais e atrairá pessoas que se identificam com a sua forma de estar na atividade. É com base na cultura que o recrutamento deveria funcionar e não com a promessa tentadora de dinheiro rápido e fácil.

Uma boa forma de definição de cultura empresarial para a mediação imobiliária seria pensar no conjunto de regras, normas, comportamentos, crenças e valores que devem determinar cada uma das ações que um determinado grupo de pessoas executa, porque se identifica e porque acredita nos resultados do que faz todos os dias.

Estimular candidatos apenas pelas comissões que vão poder ganhar, é o primeiro passo para criar mercenários e não agentes imobiliários éticos, produtivos e fidelizados. A comissão é uma consequência do objetivo que deve ser sempre prestar um serviço de excelência.

O recrutamento só deve ser considerado finalizado quando a pessoa recrutada ganha autonomia para começar a trabalhar e na maior parte dos casos, a autonomia começa a surgir após 3 meses da sua entrada. Depois vem o mais difícil, manter a pessoa associada à sua empresa de mediação imobiliária: como irei explicar será não será pela comissão, mas sim pela rentabilidade que a sua produção lhe trará.

Numa das palestras a que assisti no IMAN Connect em Nova Iorque, tive acesso a uma estatística feita pelo grupo norte americano Realogy, o maior grupo mundial de mediação imobiliária e que detém algumas marcas que operam atualmente em Portugal como a C21, ERA, Coldwell Banker e Sothebys.

Sabe quais as 3 principais razões pelas quais agentes imobiliários, com pelo menos 2 anos de retenção e resultados, se mantêm na empresa onde trabalham?

  • 1º Apoio e Coaching
  • 2º Formação Contínua
  • 3º Cultura da Empresa (ADN, Visão, Missão, Valores)

Já os profissionais com mais de 3 anos de empresa, tem uma visão diferente associada à maturidade e experiência do seu percurso e por isso hierarquizam os motivos para retenção da seguinte forma:

  • 1º Espaço, escritório, loja onde operam
  • 2º Poder da Marca
  • 3º Apoio e Coaching

Os três primeiros meses de integração são críticos, pois segundo a mesma estatística do grupo Realogy, 11,8 % dos candidatos saem no 4º mês, mas o dado ainda mais surpreendente é que 25,8% dos candidatos recrutados saem depois do 9º mês, ou seja, apesar da integração ser considerada crítica, a retenção a curto prazo tem um impacto e resultado mais negativo face ao período inicial.

O estudo foi ainda mais longe e procurou avaliar de forma qualitativa quais seriam as expetativas, ou seja, o que esperam os agentes quando são recrutados:

  • 1º Acolhimento e integração com as pessoas e cultura da empresa
  • 2º Apoio na definição do seu Plano de Negócio com o objetivo de os fazer crescer e atingir os seus objetivos
  • 3º No caso de agentes com experiência, total apoio na transição dos seus negócios em curso

Depois, o mesmo estudo comparou as expectativas iniciais com a experiência efetiva de integração:

  • 1º Integração escassa e não existência de estruturas de apoio;
  • 2º Fraca preparação dos mediadores (ou brokers) e atrasos ou resistência ao nível de adoção de tecnologia de apoio ao negócio e pessoas;
  • 3º A produtividade dos novos agentes não é prioritária para a empresa.

Se quer ter agentes produtivos na sua equipa independentemente da fase de mercado que se esteja a viver, foque-se na sua cultura, na gestão de expectativas, na fase inicial da integração, mas principalmente, foque-se nas fases seguintes de retenção para garantir uma melhoria da taxa de permanência de agentes produtivos na sua empresa.

Por fim, pense nisto:

Estimular candidatos apenas pelas comissões que vão poder ganhar, é o primeiro passo para criar mercenários e não agentes imobiliários éticos, produtivos e fidelizados. A comissão é uma consequência do objetivo que deve ser sempre prestar um serviço de excelência.

Artigo original de Massimo Forte publicado no IDEALISTA news

Comentários (4)

Massimo Forte

06 de Novembro, 2023

Eu é que agradeço o seu contributo de excelente valor para a classe, muito obrigado Cristina.

Cristina Pereira

04 de Novembro, 2023

O Artigo como sempre excelente, só falta dizer que este apoio na integração e acompanhamento dos agentes tem que ser feito por pessoas com qualificação e pagas para que estas consigam fazer o seu trabalho na sua plenitude. Se forem também comissionadas o foco destas pessoas está em serem comerciais e competirem directamente com os que iniciam a jornada numa profissão mais dificil do mundo. O recrutamento é a chave do sucesso para que na formação e integração isso se torne uma realidade tangivel nos objectivos do Broker. O Broker gere uma estrutura, abaixo dele tem que ter pilares fortes para alavancar o seu negocio e fazer estas pessoas trazerem-lhe o dinheiro. O que existe mais por aí é pessoas a vender carreiras brilhantes e dinheiro fácil. E mentes iluminadas temos muitas. Apaixonados por este negocio e que consigam dar o melhor de si e transmitir conhecimento fazendo inclusive com eles (agentes) existem poucos.E isso tem um valor incalculavel nas agencias mas os brokers não estao preparados para olhar para isso. Vêm os DC's ou Team Leaders ou integradores (como queiram chamar) como um peso na hora de cortar despesas... Grata Professor, sempre sua aluna e fã.

Massimo Forte

07 de Julho, 2022

Caro Jorge, muito obrigado pela sua partilha e partilhar é tão importante para fazer avançar e elevar a mediação para o nível que todos merecemos!

Jorge Gonçalves

07 de Julho, 2022

Caro Massimo Concordo plenamente com o seu artigo e com o seu raciocínio acerca das motivações dos agentes nas varias fases das suas vidas profissionais. Acrescentaria aqui que o problema da retenção não é só um efeito/causa dos consultores mas também uma consequência dos maus princípios de recrutamento das agencias. Pois recrutar tudo o que mexe e fala, dá nesta fraca percentagem de retenção, sendo também de lamentar a insuficiente qualidade média dos agentes imobiliários em Portugal. Pouca formação, pouco deontologia e pouco profissionalismo, as nossas agencias trabalham na quantidade e não na qualidade. Ter um agente que faz uma venda num ano já é lucro!!!!! A maior parte das agencias não tem um Projecto definido, uma linha condutora a seguir, as agencias andam ao sabor do vento , e isso reflete se na partida dos melhores agentes, na partida de quem procura mais que andar a abrir portas para mostrar casas. Tem de se trocar as mentalidades no cima da pirâmide!!!!!!

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