Da novidade à aplicação IA para a mediação imobiliária.
Se no Inman Connect do ano passado, que para quem não conhece é, na minha opinião, o melhor e maior evento tecnológico para a mediação imobiliária, se falou de Inteligência Artificial como “o tema” ocupando provavelmente cerca de 80% das workshops e talks, este ano, o foco foi em passar da novidade à aplicação prática da tecnologia disponível.
Das mais de 70 apresentações deste ano, falou-se não em IA como novidade e tendência, mas sim em métodos de trabalho e ferramentas que podem usar IA para acelerar e facilitar tarefas ou obtenção de dados. Com uma abordagem extremamente simples e essencialmente prática, mostrou-se como no dia a dia se pode aplicar a IA ao trabalho de um Agente ou Agência Imobiliária, o tom não foi formativo / informativo, até porque na minha opinião a maioria dos participantes não necessita da grande formação sobre o tema, foi essencialmente prático / demonstrativo para que a audiência despertasse para os benefícios da tecnologia, avaliando no que lhe pode ser útil.
O maior drive foi a poupança de tempo, ou seja, a eficiência de processos para tornar qualquer atividade mais acessível, mais rápida e mais simples deixando que o seu utilizador se concentre no que ele deve de facto ser especialista (relação / negociação / angariação e venda) e para o que ele é de facto contratado.
O Agente Imobiliário é contratado para ajudar a vender, comprar ou arrendar é nisso que se deve concentrar e apostar o seu investimento de recursos com a expetativa de tornar a experiência de cliente altamente eficaz, positiva e acima de tudo memorável e humanizada.
Das várias APPs com recurso a IA que foram apresentadas, houve duas que me surpreenderam e que podem ser transformadoras do negócio da mediação imobiliária e não só.
Ao vivo e a cores, perante uma plateia de cerca de 700 profissionais, um palestrante com modelos de pitch de 10 a 20 minutos falou com o chatGPT pelo telefone em alta voz como se tivesse a falar com uma pessoa, o diálogo baseado em prompts, ou seja, numa linguagem um pouco mais técnica, os prompts são inputs (perguntas ou orientações) para o modelo de linguagem Generative Pre-trained Transformer (GPT). Ao longo desta conversa surpreendentemente fluída, foi trocando experiências e pedindo opiniões em vez de apenas escrever. Permitia usar uma forma mais natural, facilitada e rápida de comunicação falando tranquilamente com a possibilidade de gravar a chamada e até de transformar a chamada em texto com resumo para ler mais tarde.
A outra trata-se da transformação de uma simples foto; obviamente cuidada e de qualidade num vídeo. Foi dado o exemplo de uma foto de um imóvel com um pequeno campo de basket, uma mais valia interessante para enaltecer no contexto de promoção do imóvel, que recorrendo a esta app permitia a criação de um vídeo, onde se introduz o que se pretende criar, neste caso, um adolescente a jogar que surge no ambiente do campo de basket do imóvel com uma qualidade de realidade muito próxima, torna a foto dinâmica e demonstra enaltecendo o beneficio, neste caso, da vivência daquele espaço comum.
Imaginem só o que pode mudar numa apresentação de um imóvel ou mesmo num anúncio em vídeo com a integração de informação, pontos de interesse e demonstração de vivência do espaço sem a necessidade de skills ou equipas para captação e edição de vídeo. Interessante para uma maior liberdade de escolha de como o Agente pode diferenciar o seu plano de marketing, deixando por exemplo o investimento em vídeo para angariações mais exigentes ou especiais.
Este exemplo mostra uma evolução da aplicabilidade da IA em que a capacidade de pergunta / resposta evoluí para pergunta / análise / resposta, a célebre IA generativa que é uma forma avançada de inteligência artificial que engloba sistemas que usam Machine Learning e Deep Learning, ou seja, e simplificando, que podem criar, aprender, reaprender e até imaginar novos conteúdos a partir de dados armazenados ou não.
Para terem uma ideia da adoção de tecnologia de IA e IA generativa, 100% da sala referiu que já não faz descrições de anúncios, nem copywrite para as redes socias.
Alerto no entanto que em relação a este tema, foi referido que é sempre necessário verificar, validar, adaptar e principalmente personalizar o conteúdo gerado face ao contexto, à experiência e ao valor que o profissional pode aportar para se diferenciar, saber usar esta vantagem é importantíssimo, tal como perceber que continua a ser igualmente imperioso a contribuição da personalização.
Ainda houve tempo para se fazer uma pequena sondagem ao vivo onde se verificou que das cerca de 700 pessoas presentes na apresentação, 80% utilizam o ChatGPT todos os dias e desses 80%, 70% utilizam a versão paga. Neste momento foi referido que esta aplicação começa a ameaçar a liderança da google no domínio da pesquisa.
Para finalizar, apenas um alerta.
A IA não é um tema tão novo como pensamos, há muitas empresas que no ramo imobiliário já trabalham com IA há mais de 20 anos desenvolvendo a tecnologia internamente, estas são as mesmas empresas que referem que não será necessário termos todas as APP’s disponíveis, nem muito menos pagar formações para as utilizar, será sim necessário eleger uma, experimentar e utilizar da melhor forma para a sua necessidade abrindo lugar à experimentação e acrescento de outras que possam complementar e acelerar o seu dia a dia, as suas tarefas e libertar o seu tempo para se concentrar em explorar e nutrir relações.
O Agente Imobiliário Profissional não pode perder este comboio já em andamento sem previsão de abrandamento, mas a grande novidade é que já não precisa de ser o condutor da carruagem, nem mesmo comprar um bilhete de primeira classe, pois hoje, e mais do que nunca com a democratização da tecnologia IA, a grande diferenciação está e estará no saber aplicar a tecnologia e a humanização à experiência de serviço que quer que marque o seu cliente.
Artigo original de Massimo Forte, publicado no IDEALISTA aqui
