É um ato de vaidade fazer o seu livro?
Se considerarmos as definições de “vanity press” (edição por conta do autor) e da “auto-edição”, as fronteiras entre cada uma podem ser confusas. Se o termo “vanity press” é considerado pejorativo, então como podemos encarar o crescente número de autores que publicam os seus livros online? O mundo editorial está a mudar e estas definições “do outro tempo”, de como e porque se publica um livro, já não estão adequadas à realidade em que vivemos.
Se tiver em conta o mercado dos EUA, o número de autores que auto-editam está a crescer a uma taxa extraordinária. No ano passado, os livros auto-editados representavam 31% de todas as vendas de ebook na loja Kindle (Amazon). O número de livros auto-editados em 2012 aumentou para mais de 391 mil (mais 59% do que em 2011 e 422% do que em 2007). No Reino Unido esta tendência é idêntica e em 2013, a quota de mercado da auto-edição aumentou em 79%.
Os autores estão a ter mais controlo sobre o negócio dos seus livros, e os editores tradicionais não estão a demonstrar a capacidade para oferecer soluções adequadas para este mercado em crescimento.
Em Portugal já temos alguns casos interessantes. Massimo Forte, um professor de Gestão Imobiliária e especialista neste sector, vendeu mais de dois mil livros do seu título “Angariar para Vender” num ano! Mas atenção: ele é um escritor que reconheceu que precisava da ajuda de profissionais. Ele editou o seu livro (podemos chamar isto de “vanity press” ou auto-edição) e vendeu dois mil livros directamente na sua plataforma de estudantes, clientes e seguidores, sem qualquer intermediário.
Se for à procura no Google por conceitos de edição vai encontrar algumas definições do tipo: “’Vanity press’ são empresas que cobram para produzir um livro ou pedem ao autor para lhes comprar algo, como condição da edição. Podem deter controlo sob os direitos do trabalho editado, fornecem um trabalho de edição, design da capa, serviços de marketing em troca de uma remuneração”. A má reputação deste conceito de edição resulta do facto de que estes autores pagam para ter os seus livros editados. Por esta razão, supostamente “o livro não passa nem está sujeito a uma aprovação ou a um processo editorial como se faria num cenário tradicional, onde o editor assume o risco financeiro pela capacidade do autor escrever com sucesso. Os serviços de edição, de formatação e de impressão podem ou não ser oferecidos e podem ter um custo acrescido”. Por definição neste modelo de negócio: “Vanity press faz dinheiro não das vendas dos livros aos leitores, como os outros editores fazem, mas das vendas e serviços que prestam aos autores. O autor recebe os seus livros e pode tentar vende-los nos canais que tem disponíveis”.
No modelo tradicional de edição “a editora assume o risco da publicação e dos custos de produção, selecciona os trabalhos que serão editados, edita o texto do autor e oferece o marketing e a distribuição, fornece um código de ISBN e o depósito legal. Esta editora normalmente paga ao autor um avanço pelo direito de publicar o seu trabalho e pagamentos seguintes, denominados de royalties, com base nas vendas do livro”.
A outra definição é auto-edição. Este conceito diz-nos que “os autores assumem as funções de editor dos seus próprios livros: alguns “auto-editores” escrevem, editam, fazem o design, fazem o marketing e promovem os seus livros eles mesmos, com a ajuda de uma gráfica que imprima os seus livros. Alguns autores escrevem os seus manuscritos e depois contratam profissionais freelancer para lhes prestam serviços na área da edição e produção”.
- Mas e se tivermos um modelo que assume que o livro percorre o mesmo processo editorial que as editoras tradicionais e que o autor assume o risco do seu investimento, vendendo directamente o seu livro?
- E se tivermos um modelo que inclui mecanismos que também ajudam os autores a vender os livros através dos canais tradicionais e digitais, onde o autor podem obter rendimentos na ordem dos 40% em vez dos normais 8%, que terá direito num contrato pago em royalties?
- Mas e se tiver um modelo em que o autor recebe toda a atenção e carinho que é dado por um editor tradicional?
Todas estas definições são estanques e não têm ligações entre si. Podemos fazer auto-edição, retirando as boas partes da edição tradicional e do “vanity publishing”. Não podemos continuar a definir a auto-edição como um acto de vaidade ou considerar que a auto-edição não é um activo valioso no mundo da edição. Nos EUA será difícil oferecer um modelo como o da Sabedoria Alternativa, porque se trata de um mercado muito grande, mas o que é importante compreender é que o poder está a mudar das mãos do editor tradicional para os autores. E por essa razão, os autores hoje em dia devem ser o centro deste negócio.
Artigo escrito por Sofia Ramos | Coach Editorial