Home Staging: Passado, Presente e Futuro | Rita de Miranda

Sejamos honestos: o primeiro impacto conta.
Seja num encontro, numa entrevista de emprego ou na compra de uma casa. É exatamente isso que o Home Staging faz — cria uma primeira impressão memorável para que um imóvel se destaque e conquiste o coração do comprador. Mas vamos por partes. Afinal de contas, o que é isto do Home Staging, como surgiu e qual foi a sua evolução no mundo e em Portugal.
Home Staging é a “arte” de preparar um imóvel para que ele seja vendido ou arrendado mais rapidamente e pelo melhor preço. Não se trata de decoração ou design de interiores. O objetivo aqui é valorizar o espaço para que ele fale diretamente ao maior número de pessoas possível. No fundo, é como vestir a casa com a roupa certa, para o evento certo.
Para mim, o Home Staging é como contar uma história.
Cada divisão tem um papel e queremos que, quem entra no imóvel se visualize ali, vivendo momentos felizes e confortáveis. É despertar emoções e criar uma conexão instantânea entre a casa e o comprador.
A maneira como eu defino Home Staging é uma técnica de marketing interno do imóvel que se foca em criar um ambiente de marketing para vender o imóvel, para que este se torne apelativo à generalidade dos clientes. A intenção é que consigam visualizar-se a utilizar a casa que estão a pensar comprar. Os imóveis com Home Staging são encenações adaptadas à venda que reforçam os pontos positivos e disfarçam os negativos criando uma visão para inspirar à compra.
Esta técnica nasceu nos Estados Unidos, na década de 1970, pela mão de Barb Schwarz, considerada a “Mãe do Home Staging”. A Barb era uma consultora imobiliária que, como ela diz, um dia tropeçou em algo que ainda não tinha nome. Tinha um imóvel parado há alguns meses no mercado e decidiu fazer algo diferente: falou com os proprietários e pediu para fazer algumas alterações que ela sentia necessidade para conseguir mostrar a casa de outra forma. Já tinha alguma experiência no teatro e na encenação, e percebeu que, para vender aquela casa precisava de prepara-la como se fosse um palco para uma peça: o espaço tinha que estar impecável e contar uma história que cativasse o público.
Fez as alterações, marcou uma open-house e conseguiu logo vender o imóvel. Nesse momento, percebeu que tinha tropeçado em algo importante por isso começou a fazer isso nos seus outros imóveis. Só mais tarde, veio a inspiração do nome “Home Staging”. Tornou-se a consultora imobiliária que mais vendia nos Estados Unidos durante muitos anos e começou a ser procurada pelos colegas para encenar outros imóveis. Ao longo destes mais de 50 anos, desenvolveu muitas formações, umas para consultores, outras para quem se queria tornar Home Stager Profissional e acabou por ter ainda um programa de televisão onde demonstrava como utilizar as coisas dos proprietários para encenar o próprio imóvel sem ter de gastar dinheiro.
Nos anos seguintes, o conceito cresceu, espalhou-se pela Europa e pelo mundo. Hoje em dia, é uma prática essencial nos mercados imobiliários mais competitivos, onde cada detalhe faz a diferença entre vender ou deixar o imóvel parado.
Por outras palavras, entendemos que a raiz e origem do Home Staging vem do mercado imobiliário e não da área de decoração. Vem da parte do negócio em si e de como estimular a vontade da compra e não vem da área das artes, ou daquilo que é belo ou bonito. Claro que é necessário utilizar algumas coisas para tornar os espaços mais apelativos, mas o verdadeiro Home Stager, é aquele que sabe entrar num imóvel habitado e com as coisas dos proprietários, torná-lo mais apelativo. E é aqui que se vê se o profissional sabe ou não trabalhar bem o Home Staging, pois trabalhar apenas os imóveis vazios é fácil, pois têm sempre uma tela em branco. Agora, trabalhar um imóvel habitado, fazer alterações com os proprietários ainda a habitar os espaços e garantir que no final das visitas, os consultores imobiliários têm propostas, aí sim, se vê a capacidade do home stager em trabalhar com condições limitadas mas sempre com um único foco: Trazer amor aos espaços! Isso sim, é respeitar a verdadeira essência do Home Staging, aí sim é respeitar a verdadeira função do Home Staging no mercado imobiliário.
Em Portugal, o Home Staging ainda é relativamente recente, tem poucos mais de 13 anos mas tem vindo a ganhar cada vez mais destaque.
Quando comecei a trabalhar com Home Staging, em 2012, percebi que muitos proprietários não conheciam o impacto que pequenos ajustes podiam ter. Muitas vezes, bastava ter uma organização estratégica dos móveis ou até mesmo a remoção de elementos pessoais para transformar um espaço e torná-lo irresistível. E foi exatamente isso que me apaixonou: a capacidade de transformar, de criar impacto e de ajudar tanto os consultores imobiliários como proprietários a atingirem os seus objetivos.
Hoje, o Home Staging em Portugal está a crescer.
São cada vez mais os consultores imobiliários e proprietários que percebem o seu valor e o impacto direto que tem nos resultados. E eu sinto um orgulho imenso por fazer parte desta mudança e por contribuir para a profissionalização desta área no nosso país, com as formações que administro.
Com o crescimento do marketing digital, o Home Staging “digital” a que muitos chamam também de “virtual” tornou-se uma solução que dizem ser inovadora. Esta abordagem utiliza tecnologia de IA para criar imagens digitais de imóveis decorados, apresentando-se uma alternativa barata ao Home Staging real e físico. Contudo, o que é barato sai caro, pois não é Home Staging e não substitui a experiência emocional de visitar um imóvel fisicamente. Portanto, é essencial comunicar claramente aos consultores imobiliários que as imagens são apenas renderizações ou 3d´s e que, quando visitarem o imóvel que viram com imagens 3d´s, os compradores vão ter uma desilusão que não será boa para o negócio.
Estamos a evoluir a uma velocidade como nunca e sei que a inteligência artificial irá agarrar as rédeas dos processos criativos mas o Home Staging não é apenas criar espaços bonitos e acolhedores. É uma experiência humana de se imaginar a morar naquela nova casa. É uma experiência interna da nossa mente, na nossa alma e no nosso coração, e por mais bonitas que sejam as imagens criadas pela inteligência artificial ou por um 3D, nunca irá substituir a experiência de visitar uma casa e sentir as coisas, com os nossos 5 sentidos. Aquilo que é chamado de Home Staging “virtual” é extremamente caro pois vai criar uma desilusão que se irá sentir no momento da apresentação de proposta. É verdade que oferece flexibilidade criativa, permitindo ajustar cores, estilos e disposições com facilidade, contudo, não substitui o toque, o cheiro, olhar de todos os pormenores de uma casa. Podemos comparar com as fotografias profissionais criadas com IA onde a imagem que passamos é perfeita sem falhas, contudo quando conhecemos uma pessoa numa reunião, entendemos que tudo não passou de um engano, pois aquela pessoa não corresponde à realidade.
Acredito que, daqui a alguns anos, possamos andar todos na rua com óculos digitais capazes de projectar realidades alternativas, aí acredito que Home Staging passe para outra dimensão mais avançada, mas sempre com a inclusão dos 5 sentidos… mas até lá ainda falta um longo caminho pela frente!
Artigo para o blog Massimo Forte de Rita de Miranda