30 de Outubro, 2024

Mediação, ainda há margem para crescer?

Massimo Forte

Estamos rapidamente a chegar ao final de 2024, um ano que no início começou indefinido e desafiante para o mercado imobiliário em geral, e para a mediação imobiliária, no específico.

Porquê?

O início de 2024 apresentou-se com uma subida repentina das taxas de juros que se veio a juntar ao problema de escassez de imóveis, entenda-se habitação realmente disponível e em condições de habitabilidade para o segmento que apresenta maior necessidade de produto que é exatamente aquele que recorre a financiamento para comprar, porque simplesmente, não tem outra forma de acesso ao bem.

Também no início deste ano, foram inúmeras as pessoas que tiveram de renegociar condições de financiamento junto do seu banco ou junto da intermediação de crédito para conseguirem travar a subida insustentável da sua prestação, uns conseguiram, outros não, mas nem por isso os níveis de crédito malparado subiram de forma significativa pois os bancos e o estado foram céleres a agir e a ajudar as pessoas mais expostas com créditos de taxa variável, evitando o incumprimento.

Muitas adiaram também a aquisição de casa própria, não por falta de necessidade, nem por receio, mas porque simplesmente, a taxa de esforço mais elevada, não o permitia fazendo com que a decisão de venda ou compra fosse adiada.

Ao mesmo tempo, muitas pessoas e players do mercado imobiliário aguardavam um eventual reajuste de preços em baixa para levar a cabo transações que tinham em plano, mas isso não aconteceu.

Porquê?

Já é certo e sabido que para começar a existir uma baixa de preços, há que haver um equilíbrio da oferta, neste caso, mais oferta que neste momento só é possível com um aumento de produto novo, com existência de produto proveniente de crédito mal parado e colocado no mercado, ou com mais reabilitação do edificado existente.

Como nada de relevante aconteceu, os preços anunciados de venda continuaram a manter-se em alta, mesmo após reajustamento em baixa causado pelos tempos de absorção um pouco mais extensos que levaram alguns proprietários a estarem mais abertos a uma baixa de asking price relembrando que asking price e valor de venda efetivo não são a mesma coisa.

Tudo isto levou a um cenário natural de abrandamento de número de transações que grande parte das mediadores e agentes imobiliários começaram a sentir com bastante preocupação.

Esta preocupação foi atenuando com o Banco Central Europeu que foi referindo ao longo deste ano que os juros iriam baixar, o que acabou por acontecer com impacto nas prestações dos créditos à habitação no último trimestre, trazendo um novo ânimo para quem compra e também para os mediadores imobiliários que viram novamente a procura a ser estimulada.

Além disso, a medida implementada pelo governo em relação à facilitação do acesso à habitação para pessoas com menos de 35 anos, também trouxe mais interessados que perante os incentivos tomaram a decisão que adiavam ou pensavam não ser possível.

Já na reta final deste 2024, pode-se dizer que se prevê um final de ano em recuperação no que diz respeito ao número de transações.

2025 pode trazer uma mudança conjuntural para a mediação com possibilidade até de crescimento para o sector que pode trazer melhores resultados que em 2023, contudo, para o consumidor final, ou seja, para aquele que adquire habitação própria permanente, pode não ser um ano interessante, pois vê regressar a procura em força e depara-se com uma estabilização de preços (em alguns casos até novas subidas), o que não será com certeza um cenário favorável para si perante a falta de oferta de produto disponível para habitar.

Para que o equilíbrio possa ser estabelecido, além de se intervir na disponibilização de produto (medida que naturalmente tem tempos de implementação elevados, pois o licenciamento e construção levam tempo), precisa-se de trabalhar o estímulo para desenvolver um mercado de arrendamento competitivo e estável para ser visto como alternativa à compra de casa.

Uma última palavra para o emprego, Portugal continua com uma situação de quase pleno emprego, o que para o negócio da mediação imobiliária acresce como um desafio extra para captação de novos agentes.

Concluindo.

Não sabemos ao certo quantas transações se fazem em Portugal através do canal mediação imobiliária, talvez o IMPIC tenha esses dados, referindo Espanha, país que os divulga, pode-se verificar que no ano passado a quota de transações efetuadas pela mediação rondava os 60%, penso que Portugal não deverá ser muito diferente, logo, a boa notícia é que provavelmente, a mediação imobiliária profissional em Portugal ainda tem uma grande margem para crescer.

Artigo de Massimo Forte para blog Idealista.pt

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