09 de Agosto, 2023

Nómadas Digitais, porque procuram o nosso país?

Massimo Forte

Na semana passada falei sobre Nómadas Digitais e dei a minha opinião a uma pergunta que surgiu quando estava em palco numa das várias palestras que costumo dar

Devo considerar os nómadas digitais como um público-alvo?

Hoje dou a minha opinião sobre a segunda pergunta que me foi feita no mesmo palco sobre o tema:

Nómadas Digitais, porque procuram o nosso país?

No meu último artigo falei sobre as prováveis razões onde o visto pode ter uma importância relevante, mesmo assim, resolvi falar com um caso próximo. Um cidadão italiano que não precisou de visto e que optou por comprar quando chegou a Portugal.

Qual a sua perceção do nosso país quando investiu e agora e porque optou recentemente por investir num país tão diferente como o Dubai?

Cheguei a Lisboa em 2010 e apaixonei-me pela cidade. Toda a gente me perguntava: porque é que gostas de Lisboa? A cidade é linda. As pessoas eram gentis e amigáveis. Bom tempo. Calmo e seguro. Infraestruturas decentes. A maioria das pessoas fala inglês. Vida cultural interessante. Preço/qualidade era excelente para uma capital europeia e até me acostumei com a água fria do oceano.

Houve muitas reformas na direção certa. Através do programa Golden Visa e NHR, o país estava a atrair (e arrecadar) receitas de estrangeiros inteligentes e ricos que não sobrecarregavam o sistema social, já altamente sobrecarregado pelos nativos. Estas pessoas não teriam vindo para Portugal de outra forma. Foi inteligente, o país tinha potencial, e eu via-me a viver em Portugal a longo prazo.

Tomei a decisão e só depois descobri a verdadeira extensão dos impostos locais… Se é proprietário de uma empresa e paga um salário a si próprio, tem de pagar 33,5% de segurança social, mais imposto sobre o rendimento. Este valor atingia quase 50%, mesmo para montantes inferiores a 100 mil euros. Rapidamente se chegava perto de 80% em impostos, mais previdência social e mesmo abaixo de 100k/ano, que é o salário médio de um trabalhador de tecnologia experiente. Melhora com o estatuto de RNH, mas ainda assim estamos a falar de 50% de impostos quando se consideram as contribuições sociais. Sobre o que resta, terá ainda de se pagar impostos relacionados com a empresa…

Muitos países oferecem melhores condições. A Estónia tem 0% de imposto se não distribuir lucros (20% quando o faz). A Roménia tem um imposto de 3% sobre as pequenas empresas com receitas inferiores a 1 milhão de euros. Surpreendentemente, a Roménia, um dos países mais pobres da Europa, acaba de ultrapassar Portugal em termos de PIB per capita.

Mesmo se preferir ficar no sul da Europa, pode obter um desconto de 90% de impostos por 5 anos (extensível a 10) mudando-se para o sul de Itália. Fora da UE, existem opções ainda melhores.

Avançando para 2023. Lisboa e Portugal mudaram. O custo de vida aumentou e a qualidade diminuiu. Os expatriados e turistas são responsabilizados por este aumento, especialmente na habitação. Para resolver a questão da habitação, as políticas que nos atraíram estão a ser desmanteladas uma a uma. Impostos adicionais como o AIMI (Adicional ao Imposto Municipal sobre Imóveis), vistos Gold cancelados, impostos sobre o património e negociação de criptomoedas, controlo das rendas restabelecido (razão pela qual tantos edifícios em Portugal estão até hoje a desmoronar-se) e o golpe final, a ameaça de arrendamento coercivo.

Será que é atrativo comprar um imóvel em Portugal, se pode comprar em qualquer lugar do mundo? Certamente não quer viver num país onde os direitos de propriedade são negligenciados. E se comprar com o objetivo de constituir um investimento, quer com certeza comprar num lugar com um alto rendimento! O rendimento médio em Lisboa (cerca de 3,5%) é inferior à taxa de depósito em USD nas principais plataformas de corretagem de valores (4,5%)…

Pode-se dizer que há potencial de crescimento. Mas se é verdade que Lisboa e Portugal estavam subfaturados em comparação com o resto da Europa, já não é assim. Lisboa continua a ser uma das melhores capitais da Europa. É um bom lugar para passar alguns meses, mas, para mim, perdeu o apelo como um lugar para residir e, definitivamente, não é agora mais atraente para pensar em possuir propriedade. As políticas de habitação estão a colocar o país perigosamente na direção errada e a única coisa que pude fazer e sobre a qual tinha controlo foi decidir sair.

Conclusões:

Já percebemos por este testemunho que Portugal começa a ter grandes desafios para atração de estrangeiros capazes de realmente investir no país, sem esquecer quem cá vive desde sempre, dever-se-ia repensar a estratégia nacional para a atração de investimento estrangeiro capaz de melhorar o país em infraestruturas, serviços e principalmente partilha de conhecimento.

Julgo que Portugal continua a ser um país de atração para nómadas digitais, contudo, não em número sustentável para suportar em escala um negócio de mediação imobiliária ambicioso.

Artigo de Massimo Forte com referência no IDEALISTA NEWS

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