Nómadas digitais, um público-alvo para a mediação?
Numa das várias palestras que costumo dar, fui confrontado com uma pergunta feita por uma Agente Imobiliária que nunca me tinha sido feito em palco:
– Devo considerar os nómadas digitais como um público-alvo?
Não tendo uma análise imediata feita da sua situação, respondi-lhe com muita sinceridade:
– Não sei!
– Quantos nómadas digitais seguiu este ano?
– Quem eram? De onde vinham? O que pretendiam?
– E quantos se tornaram clientes, não só para transação de imóveis, mas para outros serviços dedicados que oferece ou poderia oferecer?
A dúvida sobre se os nómadas digitais poderiam ser um público-alvo para esta Agente, foi esclarecida com respostas às minhas perguntas.
E este é o desafio que escolhi para este artigo: fazer as perguntas certas com o objetivo claro de o ajudar a responder se, para si, os nómadas digitais podem ser um nicho a considerar.
Como sempre, comecemos pelo princípio! O que são nómadas digitais?
Deparei-me com uma definição muito simples e lógica no site www.movingtoportugal que refere que os nómadas digitais são trabalhadores que, por apenas necessitarem de um pc e um smart phone para desempenhar a sua atividade profissional (daí o termo digital), podem escolher fixar-se em qualquer ponto do mundo para trabalhar, caso a empresa o permita.
Aproveitam esta vantagem (entre outras) para conhecer ou viver em diferentes sítios (daí o termo nómada) sabendo que podem trabalhar à distância.
Se antes eram percecionados como turistas, agora são vistos como uma comunidade que apesar de se encontrarem em constante movimento, conseguem mobilizar setores e economia dos países que escolhem para trabalhar por curtos, ou mesmo longos períodos de tempo.
Sem dúvida, um novo paradigma laboral.
Nómada digital, um nicho que existia muito antes da pandemia, mas que ganhou outro significado e dimensão durante, e principalmente depois da pandemia, sendo hoje considerados não apenas um nicho, mas cada vez mais um tipo de cliente que procura um estilo de vida em determinada altura da sua vida.
Importante referir que, ao contrário de outros, o Estado Português constituiu um visto especial para este perfil que não só se mantém, como não se prevê discussão para eventual anulação de benefícios.
Regras para ser considerado um nómada digital em Portugal?
Vou cingir-me ao mais recente visto criado para nómadas digitais em Portugal, que entrou em vigor a 30 de outubro de 2022.
Este visto define os nómadas digitais como estrangeiros que trabalham remotamente, a partir de Portugal, ao abrigo de um contrato de trabalho, ou enquanto trabalhadores independentes, para uma pessoa singular ou coletiva com domicílio ou sede fora do território nacional.
Neste novo visto para os nómadas digitais, foi reconhecida a necessidade de criar um visto específico para situações específicas, porque até à sua recente alteração, a principal alternativa para estes profissionais era o chamado “visto D7”, um visto destinado a estrangeiros com rendimentos passivos estáveis que fossem provenientes, por exemplo, de rendas de imóveis, pensões, segurança social, investimentos, etc. e a que poderia aceder quem pretendia mudar-se para Portugal ou reformar-se e viver no nosso país.
O “visto D7” não era específico para trabalho à distância, mas porque não exigia a prestação de serviços ou a existência de um acordo de trabalho com uma empresa portuguesa, podia ser utilizado por nómadas digitais.
Enquanto o visto de estada temporária é válido por um ano, podendo ser renovado por igual período, o visto de residência visa aqueles que pretendem permanecer em Portugal por um período mais longo.
O visto de residência permite a um estrangeiro entrar em Portugal por um período de 4 meses (o equivalente a 120 dias), podendo posteriormente solicitar uma autorização de residência válida por um período de 2 anos e renovável por períodos subsequentes de 3 anos.
Os titulares de autorizações de residência podem requerer uma autorização de residência permanente após 5 anos de residência legal em Portugal.
O novo visto está sujeito ao mesmo regime de permanência a que está sujeito o visto de residência D7, ou seja, exceto por motivos pessoais ou profissionais devidamente justificados, os titulares de autorizações de residência não podem estar ausentes do território português durante um período de 6 meses consecutivos, ou 8 meses interpolados durante o período de validade da autorização de residência (2 anos e depois 3 anos).
Para além dos requisitos gerais para todos os tipos de vistos, os nómadas digitais que pretendam requerer um visto de estada temporária ou de residência, terão de provar que são trabalhadores por conta própria ou empregados por uma empresa sediada fora de Portugal:
a) Em situações de trabalho subordinado, com um dos seguintes documentos:
– Contrato de trabalho;
– Declaração do empregador a comprovar o vínculo laboral.
b) Em situações de atividade profissional independente, por um dos seguintes documentos:
– Contrato de sociedade;
– Contrato de prestação de serviços;
– Documento demonstrativo dos serviços prestados a uma ou mais entidades.
Para além disso, é exigida prova dos rendimentos médios mensais auferidos nos últimos três meses no exercício da atividade profissional subordinada ou independente, de valor mínimo que terá de ser equivalente a quatro remunerações mínimas mensais portuguesas garantidas (atualmente cerca de 3.040€, por referência ao montante definido Orçamento de Estado previsto para 2023), bem como a apresentação de documentos que comprovem a definição da sua residência fiscal.
Assistiu-se, entretanto, a um aumento das exigências no que toca aos rendimentos do novo visto em comparação com o regime D7, uma vez que os titulares de vistos D7, apenas precisam auferir o equivalente a um salário mínimo português por mês (cerca de 760€, por referência ao montante definido Orçamento de Estado previsto para 2023), sendo que estes rendimentos podem provir de fluxos de rendimentos “passivos”.
O visto para nómadas digitais pretende ser uma alternativa ao visto D7 e uma resposta a muitos candidatos que ficariam de fora, uma vez que não cumpriam todos os seus requisitos. Simultaneamente, enquadram juridicamente a situação da permanência de inúmeros trabalhadores estrangeiros que escolhem Portugal para viver, não obstante de trabalharem para uma entidade fora de Portugal.
Dimensão do potencial de mercado – números de nómadas Digitais em Portugal?
Segundo o MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros) Portugal emitiu desde Março deste ano 550 vistos para nómadas digitais, sendo que os norte-americanos, Britânicos e Brasileiros dominam o ranking. Contudo o conceito vai muito mais para além dos vistos, ou seja, existem de facto nómadas digitais que não precisaram de visto para morarem em Portugal, por exemplo, porque são cidadãos da união europeia e não deixam por isso de estar inseridos no mesmo segmento e público-alvo. Como deve calcular, este novo critério dificulta a análise, mas aumenta o potencial!
Onde preferem viver?
Baseando-me no site www.nomadlist.com, podemos verificar que no ranking mundial, a Ericeira destaca-se como preferência, bem como Madeira e Porto. Lisboa aparece em 13º e como 3ª a nível nacional. Estas localidades parecem reunir as preferências deste tipo de cliente em Portugal num site que é considerado bastante credível.
Outro dado importantíssimo para o negócio de Mediação Imobiliária, será o tipo de contratação que os nómadas digitais celebram para morarem em Portugal. E um dos mais importantes para definir a sua estratégia de negócio para este segmento será saber se arrendam ou compram mesmo os imóveis.
Não possuindo dados estatísticos tratados, falo por informação que recolhi no terreno, ou seja, questionando profissionais ligados a este tipo de cliente. Pude concluir que a primeira vaga era composta de pessoas que investiam na operação de compra no nosso país, com a proliferação do conceito, começaram nos últimos anos a preferir o arrendamento, o que quer dizer que para um Agente Imobiliário que queira trabalhar este segmento e construir uma operação rentável, terá de considerar que terá de trabalhar em volume, ou seja, com um número elevado de arredamentos deste tipo, de preferência, com intervalos de valor elevado.
Artigo de Massimo Forte com referência no IDEALISTA NEWS