23 de Outubro, 2024

O MERCADO EVOLUI, MAS A ÉTICA E A LEI NÃO ACOMPANHAM.

Massimo Forte

Nos últimos 10 anos, com a evolução do mercado imobiliário e com o consequente avanço da mediação imobiliária, muito se tem falado sobre a profissionalização do setor e sobre a discrepância de serviço e comportamentos do Agente e Mediador Imobiliário.

A atividade tem ainda muito espaço para crescer e melhorar, há ainda muitas falhas que, de uma forma simples, poderiam ser melhoradas ou completamente resolvidas e muitas vezes esta melhoria passa por valores, ética e comportamentos.

Muitos bons profissionais na área, e existem cada vez mais, sabem que há sempre oportunidade de melhoria, destaco algumas da situações específicas e recorrentes que podem ser analisadas no dia-a-dia.

Acompanhamento e seguimento, só quando lhe convém?

O acompanhamento e seguimento a clientes vendedores e compradores deve ser feito de forma clara e consistente evidenciando empatia e profissionalismo, mas acima de tudo, deve ser feito de acordo com as expectativas que semeou revelando presença de valores éticos de atuação e integridade.

Negociação com omissão ou preparação?

Negociações que se iniciam com base em omissão de factos para forçar uma decisão pode levar a resultados ocasionais positivos para si, mas que a longo prazo se desmoronam com o feedback da experiência de cliente que passa para o mercado.

Um pequeno exemplo?

Não dar o preço correto de uma propriedade e referir um preço mais elevado na expetativa de uma negociação mais agressiva para chegar ao preço correto, não é uma forma transparente de fazer mediação.

Por outro lado, adulterar informação sobre preço de mercado em função do objetivo de angariação é errado, é frequente deparar-me com este tipo de comportamento, mas acredito que em breve a tecnologia irá rapidamente solucionar esta situação trazendo mais transparência para o mercado e fazendo com que a análise do profissionalismo por parte do cliente vendedor, fale mais alto que o preço que se pretende obter, porque afinal, quem dita o preço é mesmo o mercado e não o Agente.

Contacto a todo o custo?

Infelizmente alguns agentes ainda omitem que o são quando contactam por telefone ou email um potencial proprietário vendedor e fazem-no sempre por indicação de suposta técnica de abordagem ou por terem receio ou falta de técnica e prática no trato a ter em conta na primeira abordagem. Alguns Agentes (e estou a ser simpático), fazem-se passar por interessados efetivos omitindo que são Agentes Imobiliários com o intuito de conseguirem uma reunião e depois “conseguirem dar a volta ao cliente”, muitas vezes isto é feito no improviso com um único objetivo, obtenção de uma angariação a todo o custo.

Ora, como acham que este cliente vai ver este Agente e falar da sua experiência com outras pessoas? Pois.

Visitas intermináveis com o cliente comprador.

Há muitas pessoas que com o sonho de mudar, entram numa fase de “turismo imobiliário” mesmo antes de saber se podem mudar, como e para onde. O verdadeiro problema não está no interessado ou curioso, está sim no profissional que não faz qualificação nem mesmo pré-qualificação, arriscando tempo em visitas sem se quer conhecer minimamente o seu potencial cliente. Perde o seu tempo e faz perder tempo a todos os envolvidos no processo.

“Técnicas de Vendas” evangelizadas por quem só tem foco em curto prazo.

Outro ponto interessante é a variedade de “técnicas” que proliferam nas redes para se conseguir uma decisão positiva de um cliente, sem olhar a meios, para atingir os fins.

Exemplos?

– “Como simular um cliente para obter uma angariação”

– Como simular um cliente para pressionar uma decisão de venda”

– “Como anunciar imóveis não existentes ou como omitir factos sobre o imóvel ou sobre a sua localização para captar o máximo de leads”

Atrás já falei sobre expetativas e aqui, o resultado até pode aparecer a curto prazo, mas a longo prazo, o valor da reputação está a ser colocado em risco num negócio onde a confiança é fator chave de sucesso para profissionais que querem elevar esta atividade para a importância que ela merece. De notar que este tipo de estratégia causará uma quebra total de confiança e reputação, e muitas das vezes é irreparável, obrigando o Agente a uma mudança de zona.

Foco na concorrência ou no cliente?

Apesar de ainda não existirem sistemas democratizados de MLS (Multi Listing Services) em Portugal, acredito que a concorrência na Mediação Imobiliária será cada vez mais encarada como parceira de negócio focada numa única coisa, cliente.

Uma frase que para mim reflete o que penso sobre o assunto, é esta:

– “Enquanto um angariador não consegue o contrato em exclusivo, a concorrência será sempre concorrência, quando o contrato é assinado, os concorrentes tornam-se parceiros.”

Para que haja um bom entendimento entre todos e para que as parcerias entre mediadores e agentes possam proliferar, é importante definir e implementar o uso de regras de boa conduta baseadas no bom senso.

Para me apoiar numa definição de um bom compromisso de valores, consultei alguns manuais deontológicos de boa conduta de empresas e entidades, dos quais retirei os mais relevantes:

  • Lealdade. O agente imobiliário não deve tentar obter vantagens desleais sobre os parceiros e deve estar disposto a partilhar com eles o fruto dos seus estudos e experiências profissionais. No mesmo âmbito, o agente imobiliário não deve comentar de forma negativa a atuação de um parceiro.
  • Respeito do requisito de exclusividade. Os profissionais do setor devem respeitarem-se nas relações estabelecidas entre si e também entre clientes no que diz respeito a todas as situações em que, através de contrato de Mediação Imobiliária, se tenha previsto atribuir a cláusula de exclusividade a um determinado mediador/agente imobiliário.
  • Remuneração de partilhas. A divisão das remunerações entre mediadores, no âmbito de situações em que intervenham conjuntamente num mesmo negócio, deve fazer-se sempre sobre bases fixadas previamente para evitar qualquer litígio na conclusão do negócio.
  • Promoção do imóvel através de placas. As placas de informação contendo anúncios com expressões como “Vende-se”, “Permuta-se”, “Arrenda-se” e outras similares, afixadas numa propriedade, não devem ser colocadas por mais de um mediador/agente imobiliário e apenas com autorização do respetivo proprietário, salvo se essa autorização tiver sido concedida a vários mediadores conjuntamente.
  • Concorrência desleal. Embora não esteja instituída qualquer tabela de remunerações mínimas, o mediador/agente imobiliário não deve prestar-se a oferecer os seus serviços por montantes que, quer fixos ou percentuais, sejam manifestamente inferiores aos que usualmente são praticados pelos seus colegas de profissão na zona em que se realiza o negócio, a fim de evitar concorrência desleal.

Para concluir.

O mercado evolui todos os dias, mas os códigos de ética estagnam, não se aplicam e enquanto isso, a legislação vai ficando cada vez mais desatualizada.

Artigo original de Massimo Forte

Comentários (4)

Massimo Forte

05 de Novembro, 2024

Muito obrigado pelo seu contributo Sérgio.

Sergio Juvencio

05 de Novembro, 2024

Tem toda a razão Máximo, ainda custa acreditar que ainda se mantêm algumas destas práticas em Portugal.

Massimo Forte

01 de Novembro, 2024

Muito obrigado pela partilha da sua opinião Carla.

Carla Conde

30 de Outubro, 2024

MLS e implementação de um sistema de reconhecimento profissional, seja carteira profissional, seja outra a modalidade mas que dignifique a actividade e quem está no mercado como profissional e não como "turista" do imobiliário para "ganhar alguma coisa" de forma supostamente fácil.

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