ONDE ESTÁ A ÉTICA NA MEDIAÇÃO IMOBILIÁRIA?
Hoje de manhã quando saía para dar mais uma formação a Norte do país algo despertou a minha atenção: quando cheguei ao meu carro deparei-me com um papel junto ao limpa-para-brisas que abri e li uma mensagem que afirmava que tinha batido no carro de trás, o proprietário do outro carro solicitou neste bilhete um contacto da minha parte com o objetivo de resolver esta situação, apelando no final à minha boa-fé.
A minha primeira reação foi de choque, pois não tinha batido em nenhum carro, e o pequeno risco que esta pessoa afirmou ter verificado no seu carro não tinha para mim sentido, pois para além de estar certo que não o fiz, hoje em dia quem estaciona na rua tem de estar consciente que está sujeito a estas situações. Será eticamente correto da minha parte ligar para esta pessoa? Será eticamente correto dar-lhe o benefício da dúvida e acreditar nas suas palavras, verificando o que de facto se passou para chegar a um consenso? Será eticamente correto assumir de imediato, e disponibilizar-me para assumir o estrago?
Cada um de nós poderá optar por qualquer uma destas hipóteses, e por muito que achemos estranho, todas poderão estar certas, dependendo apenas do ponto de vista e da ética de cada um, mas o que é de facto a ética?
Se pesquisarmos no dicionário, a origem da palavra vem do grego, significa “bom costume”. A ética é composta por princípios universais e por ações em que acreditamos, que não mudam, independentemente do lugar onde estamos. A ética busca fundamentar ações morais exclusivamente pela razão, diria que a generalização da ética será fundamental para que nos entendamos uns com os outros e para que consigamos resolver conflitos ou dúvidas em relação ao comportamento que temos uns com os outros, garantindo que o respeito impera.
Para que isto aconteça temos de seguir os códigos de ética, através dos quais, de certa forma, se recorre à escrita para generalização de regras que definem o que deve ser de facto o bom costume. São normalmente estes códigos que dão origem a legislação e procedimentos que podem por exemplo estar definidos em manuais de conduta de cada empresa, tendo em conta que estes respeitam acima de tudo a lei. Na Mediação Imobiliária tem de acontecer exatamente isto, os códigos de ética que imperam nos vários países onde a atividade se desenvolve, foram feitos em função da experimentação prática de situações que ocorrem no dia a dia dos profissionais evolvidos.
Neste artigo não irei falar da ética profissional para com o cliente comprador e vendedor (outro tema de extrema importância), mas sim da ética entre colegas que nos últimos tempos tem tantas vezes vindo a ser posta em causa. Importante referir que a ética, ou melhor dizendo, a falta dela, já nos acompanha há anos, e felizmente para nós esta situação tem vindo a evoluir, muito pelo contributo da legislação, da formação e da definição de códigos de ética por parte das empresas, em especial, por parte das Redes Norte-Americanas. Hoje e devido à fase de recuperação do setor imobiliário, que como sempre e por naturalidade, arrasta de forma positiva os resultados da Mediação Imobiliária, assiste-se à entrada de novos players que por desconhecimento ou por pura ambição, passam por cima de algumas regras básicas de ética instauradas, também é verdade que algumas pessoas que se tinham afastado da atividade durante a recente crise, voltaram novamente à procura da tão ambicionada prosperidade, esquecendo mais uma vez alguns dos valores éticos pelos quais o nosso setor se rege.
Algumas das situações mais alarmantes que se assiste hoje no mercado são:
- “…gostava de marcar a visita, mas neste momento não sei onde andam as chaves…”. Obstrução voluntária, mas não assumida, da possibilidade de partilha para conseguir o pleno (angariação e venda) a qualquer custo e evitando o pagamento de 50% ao colega, que por acaso até tinha um cliente comprador que compraria o imóvel por um valor mais alto. Esta situação apenas se verifica quando o mediador trabalha em exclusivo, e devo dizer que quando isto acontece, o serviço ao proprietário fica altamente comprometido…
- “…não sei o que dizer, não consigo falar com o meu cliente proprietário, deve estar de férias, logo que ele chegue eu apresento a tua proposta…”. Quando se partilha, muitas vezes se verifica que não se apresentam as propostas a tempo e horas para que se consiga fazer o negócio sem partilha, recebendo 100% dos honorários e não apenas os 50%, mas correndo o risco durante este processo de driblar de tempo de não realizar nenhuma das propostas, mais uma vez, quem perde é o proprietário;
- “…ainda está com essa empresa, não costumo fazer isto, mas vou dizer-lhe algumas coisas sobre esses meus colegas…”. Tentar demover uma angariação em exclusivo, ainda dentro do prazo estipulado é uma das situações que também se verifica, trabalha-se erradamente denegrindo a imagem e desempenho do colega…
- “…ainda não me passaram o cheque, para a semana ligo-te…”. Fazer o negócio, receber os honorários e não distribuir de imediato ao colega é uma situação a evitar a todo o custo.
Haveria muito mais casos e situações que enriqueceriam o que não fazer, na maior parte estão definidas nas regras do código de ética da Mediação Imobiliária. Nos países mais desenvolvidos, algumas regras deste género já estão expressas e contempladas na própria legislação, sendo por isso puníveis por lei, não apenas com coimas de carácter financeiro, mas sobretudo com medidas que impedem ao infrator de continuar a exercer a sua atividade.
Estou convicto que o mercado português ainda tem um caminho longo a percorrer, mas neste caminho, todos os profissionais serão responsáveis pelo percurso a fazer.
Para terminar, seria bom e antes de mais definir bem o que são os “bons costumes” na Mediação Imobiliária enquanto o caminho vai sendo feito. Para mim o essencial é que o bom senso impere entre todos, colocando sempre o respeito e a compreensão do e pelo outro em primeiro lugar e focando-se apenas num único objetivo, a satisfação plena dos dois clientes, ou seja, do cliente comprador, e do cliente vendedor que são a grande razão da existência de todos nós profissionais.
Até lá, vou terminar com uma frase da minha avó “quem tenha juízo que o use”…
Comentários (9)
Massimo Forte
09 de Fevereiro, 2018
António Correia
09 de Fevereiro, 2018
Jaquim
24 de Janeiro, 2018
Francisco Martins
05 de Janeiro, 2018
13 de Dezembro, 2017
11 de Dezembro, 2017
Victor
09 de Dezembro, 2017
07 de Dezembro, 2017
06 de Dezembro, 2017