02 de Julho, 2025

Afinal, ainda vamos precisar de avaliadores?

Massimo Forte
Afinal, ainda vamos precisar de avaliadores?

por José Covas


Vivemos num tempo em que a tecnologia desafia todos os modelos tradicionais, e a avaliação
imobiliária não é exceção
. Com o avanço da inteligência artificial, da digitalização dos dados e
da sofisticação dos modelos automatizados, a pergunta começa a surgir com cada vez mais
frequência: “será mesmo necessário visitar fisicamente um imóvel para o avaliar?” E mais — “será
sequer necessário contar com um avaliador experiente, quando “toda a informação já está na
internet”?


A dúvida é legítima. Hoje em dia, é possível cruzar milhares de dados — desde plantas,
imagens aéreas, históricos de transações e geolocalização — com apenas alguns cliques. Os
modelos AVM (Automated Valuation Models) conseguem, em muitos casos, gerar estimativas
rápidas e até visualmente apelativas. Mas atenção: uma estimativa não é uma avaliação. Aliás,
segundo os IVS (International Valuation Standards), uma AVM não é sequer uma avaliação
válida
— porque não envolve “valuer’s judgment”, ou seja, o juízo crítico e responsável de um
perito qualificado.


O mesmo se aplica ao que vemos frequentemente no mercado por parte de agentes
imobiliários. Muitos anunciam “Quer saber quanto vale o seu imóvel?” e oferecem “avaliações
gratuitas” — algo que é, além de incorreto, ilegal. A legislação portuguesa sobre avaliação é
clara: apenas peritos avaliadores com formação adequada e credenciação específica podem
realizar avaliações com caráter oficial. Análises comparativas de mercado são úteis, sim — mas
não são avaliações
. E não devem ser confundidas como tal.


Esta banalização do termo “avaliação” por ferramentas automáticas e agentes não qualificados
pode ser perigosa. Porque induz em erro, desvaloriza o rigor da profissão e mina a confiança
num processo que deve ser técnico, isento e fundamentado.


Avaliar não é apenas estimar um preço. É interpretar o contexto, pesar os riscos, conhecer o
mercado
, identificar os fatores de valor tangíveis e intangíveis. É tomar decisões responsáveis
com base em princípios éticos, normas reconhecidas internacionalmente e conhecimento
profundo da realidade local. É, acima de tudo, assumir responsabilidade profissional por aquilo
que se afirma.


E sim, a inteligência artificial veio para ficar. Mas veio, sobretudo, exigir mais de nós: mais
conhecimento, mais discernimento, mais capacidade de interpretar a complexidade com
sentido crítico. A tecnologia ajuda — mas não substitui.


O avaliador do futuro — que, na verdade, é já o avaliador do presente — não é um mero
técnico. É um analista, um estratega, um conselheiro de confiança. Alguém que não responde
apenas “quanto vale”, mas também “porque vale”, “em que condições”, “com que riscos” e
“com que perspetivas”.


Portanto, sim — continuaremos a precisar de avaliadores. Não menos. Muito mais.

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