10 de Maio, 2023

Em 10 anos, muitos pontos positivos e muitos que podem sempre melhorar.

Massimo Forte

Estou no mercado imobiliário desde setembro de 1993, o que significa que já vivi 30 anos de evolução desta atividade que me continua a apaixonar e fascinar todos os dias.

Como comecei?

Quis estudar especificamente para esta atividade onde comecei como agente imobiliário, na altura os meus cartões identificavam-me como vendedor e mais tarde mediador.

Passei por várias experiências, pelas principais marcas e lidei com milhares de profissionais até que em 2013, decidi que continuaria a trabalhar com pessoas e marcas de uma forma diferente.

Mantive-as como pilar fundamental do meu projeto que surge com o propósito de ajudar, formar e partilhar tudo sobre imobiliário para elevar, dignificar e profissionalizar pessoas, empresas e marcas do meu setor.

Este ano o meu projeto faz 10 anos!

Olhando para trás foi curioso perceber que comecei num período instável de crise de mercado onde quem ditava as regras era claramente o comprador, entre outras características desta fase, estávamos a viver num período igualmente difícil de mais oferta e menos procura.

E o que tem acontecido ao longo destes 10 anos?

Decidi fazer o meu balanço do mercado imobiliário para refletir sobre a viagem que fiz esta década e para perceber se teve mais aspetos positivos do que negativos, pensando sempre que os aspetos negativos, são pontos a melhorar, e não propriamente toalhas deitadas ao chão.

Vamos aos pontos positivos!

Escolhas partidárias à parte, na minha opinião, as medidas que o governo de Passos Coelho e Portas optaram para colocar Portugal na esfera do investimento internacional foram fundamentais para o início da evolução do imobiliário em Portugal.

As cidades portuguesas e em especial Lisboa e Porto, nunca tinham vivido uma evolução tão evidente no que diz respeito ao investimento, reabilitação de edifícios e reabilitação urbana.

O turismo impulsionou e acabou por beneficiar destas medidas tendo hoje para oferecer um conjunto de cidades mais evoluídas, mais atrativas.

A mediação imobiliária, depois da hecatombe da última década, ergue-se e de que maneira, mais redes, mais agências, mais agentes, mais sistemas, mais formação especializada e sobretudo mais faturação.

A tecnologia explode trazendo mais abrangência, mais organização, mais rapidez e sobretudo mais transparência à opacidade de um mercado imperfeito.

Os investidores, na generalidade, colheram boas rentabilidades e aproveitaram o ciclo expansionista para alavancar os seus investimentos ou recuperar das perdas acumuladas na década anterior.

E os pontos que podiam melhorar?

As políticas de habitação dos governos que se seguiram, caíram na incapacidade de aproveitar e gerir o bom momento do mercado imobiliário e deixaram apenas o mercado seguir o seu rumo, sem investir e intervir de forma proativa e sem se preocupar com  os potenciais cenários que poderiam surgir numa situação de inércia e de falta de políticas de habitação. Hoje o resultado está à vista com a dificuldade de acesso a habitação em centros nevrálgicos e com o acender cada vez maior da contestação do direito à habitação.

Pergunto, quantas casas de habitação social ou a custos controlados foram construídas nesta última década? Quantos incentivos reais para construção de habitação para a classe média foram feitos? Quantos programas com sucesso e em escala foram lançados para desmistificar e estimular o arrendamento em detrimento do endividamento?

Pouco, muito pouco, e agora com um problema grande nas mãos que tinha vindo a ser varrido para debaixo do tapete, mas que foi posto a descoberto pela inflação, decide-se por uma intervenção reativa, brusca e na minha opinião sem grande esperança de constituir uma verdadeira e estruturante solução. Financiamento escasso, carga fiscal praticamente inalterada e agilização do licenciamento praticamente igual, ou até pior do que há 10 anos.

A mediação imobiliária foi crescendo neste cenário e curiosamente seguindo a mesma desordem, com desregulação da atividade e desprofissionalização do setor.

Temos um cenário de empresas e redes que em vez de trabalharem em conjunto, não partilham e não se entendem, em vez disso, luta-se de forma desmedida na quantidade e não na qualidade do recrutamento e com um único objetivo em mente, dinheiro a qualquer preço.

De duas associações passámos a uma para voltarmos a duas que seguem sem propósito evidente falhando no principal papel de influenciar o Estado e o IMPIC que continuam a prometer o mesmo há mais de 10 anos: legalização da atividade de agente imobiliário e atualização da lei da mediação que apenas foi alterada na década anterior para promover um facilitismo desorganizado.

E hoje, quando a transparência de um sistema de MLS implementado em tantos outros países com sucesso, poderia ser a chave para criar uma base de dados fiável e real para decisão, a preocupação é a de investimento num portal para acabar com a dependência dos portais.

Apesar de tudo redes, instituições de ensino e empresas especializadas têm vindo a contribuir de forma positiva para mais e melhor formação, tão importante e tão fundamental para quem entra e está neste setor por lidar com um dos maiores investimentos para a generalidade das pessoas. No entanto e com o surgir da pandemia dos últimos anos, de repente surge uma nova vaga de formação baseada no facilitismo, na lead e principalmente no dinheiro esquecendo as regras básicas desta atividade: ética e boas práticas, conhecimento processual e jurídico, conhecimento do mercado e principalmente, conhecimento do cliente para o servir e ir ao seu encontro.

Os investidores, acusados de especulação, fazem o que sempre fizeram: encontrar negócios rentáveis dentro da sua atividade para ir ao encontro da procura das pessoas que tornam o seu negócio viável e atrativo. Quando isso já não for possível, provavelmente irão mudar novamente de mercado, e nessa altura, o que parecia o problema, vai deixar um vazio numa área que não trazia todas as soluções, mas trazia parte.

E agora, o que esperar?

Eu diria que foi bom enquanto durou, a confiança estava em alta, o mercado subiu muito para muitos, em todos os sentidos e muitos negócios nasceram e floresceram à volta da mediação, mas na verdade ninguém estava preparado para um cenário de uma mudança de ciclo abrupto.

Muitas pessoas que investiram nos últimos anos no imobiliário para conseguir a prometida independência financeira, podem vir a deparar-se com uma realidade diferente que têm de saber como ultrapassar.

Olhando para estes meus 30 anos tenho uma certeza, há que focar nos pontos positivos.

Quem soube estar na mediação de forma profissional e com o foco certo nas pessoas, no seu networking, na sua especialização, no evoluir da tecnologia e na criação de sustentabilidade do seu negócio, vai saber adaptar-se agora, e nos próximos anos.

Artigo original de Massimo Forte

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