PORQUE FALHOU A DOMOZO?
Talvez a primeira prop tech portuguesa da Mediação Imobiliária a fechar com menos de um ano de atividade, a Domozo, projeto sempre muito contestado acabou por não resistir ao mercado onde se quis destacar.
O meu último artigo sobre esta empresa projetava uma opinião interessante que comparava a Domozo com a UBER, de facto veio-se a provar que nada tinha a ver, e como todos os novos projetos será sempre o mercado que julgará a sua relevância e consequente sustentabilidade.
Neste artigo resumo o que na minha opinião são os 5 motivos que fizeram com que este projeto inovador chegasse ao fim praticamente logo após a sua nascença:
- Posicionamento demasiado agressivo em relação aos restantes players no mercado da Mediação Imobiliária. A Domozo assumiu-se como muito mais do que apenas um concorrente direto à mediação imobiliária tradicional, a sua estratégia de comunicação que tinha como objetivo a desvalorização dos concorrentes para destacar a sua oferta foi muito inconveniente, o que levou que todos os players do mercado a considerassem como uma concorrência desleal apesar da sua licença de atividade comum, mas mais do que isto, foi a forma pouco ética de se posicionar que criou um anticorpo mesmo junto de alguns consumidores finais mais conscientes do serviço que não se terão identificado com esta postura;
- Desconhecimento da essência da atividade de Mediação Imobiliária. Uma coisa é ser parceiro de Mediadores Imobiliários e conhecer de fora o mercado, outra coisa é estar dentro da atividade trabalhando no terreno todos os dias. Não é a primeira vez que isto acontece, já houve várias empresas que vieram de outras atividades com uma certa arrogância achando que no fundo a atividade da Mediação Imobiliária é fácil, e que os profissionais que a fazem são de um nível muito inferior, veja-se o projeto da CasaGlobal da Sonae que no princípio deste século também durou cerca de um ano. Nunca se deve subestimar algo que não conhecemos profundamente, até porque este negócio não é sobre tecnologia e imóveis, mas sim sobre pessoas que conhecem bem o seu mercado e a sua atividade e que se sabem relacionar com outras pessoas. Como em todas as áreas há profissionais que se destacam pela positiva e outros pela negativa;
- A tecnologia vs o contacto direto. Apesar de tudo, continuo a acreditar que as prop tech vão avançar e ganhar quota de mercado, continuo acreditar também que a tecnologia vem aperfeiçoar de forma positiva toda a atividade da Mediação Imobiliária, mas não da forma como a Domozo a idealizou. Faltou a parte das pessoas. A tecnologia até poderá facilitar o processo, tornar as coisas menos complicadas, e até mais rápidas, mas são as pessoas que farão a diferença no apoio ao cliente e às suas necessidades. Na minha opinião, um bom exemplo de projeto tecnológico a aplicar ao mercado imobiliário, e à mediação imobiliária em específico, será aquele que consegue conhecer para facilitar a vida às pessoas, veja-se o DRS, start-up portuguesa de 2016 com um crescimento notável e já presente no mercado global;
- Informação virtual vs real. Espantou-me muito a forma como a Domozo tratou os seus dados de mercado virtuais vs o que realmente são os dados reais de mercado. Será que a Domozo não sabia que nos portais imobiliários existe um sem número de produto e informação não real (falsa muitas vezes) que em Portugal e em grande parte do mundo torna o reporting ou os estudos de mercado (avaliações) pouco fidedignas? A forma leviana como foi tratada a informação e a avaliação imobiliária só poderia dar errado. De facto a Domozo posicionava-se como a empresa low cost do mercado e este tipo de serviço caracterizava muito o que tinham para oferecer e a sua postura perante este facto.
- Atitude e Valores. A última razão, e talvez a mais importante, todos percebemos rapidamente que era a Naspers quem estava por de trás da Domozo, ou seja, o projeto tinha nascido no seio da OLX através da Imovirtual. A forma disfarçada como o mesmo foi feito provocou não só a ira dos profissionais da Medição Imobiliária mas principalmente evidenciou a atitude e valores que estavam por de trás desta marca.
Há muitos anos atrás a Google tinha um projeto para entrar no mercado de Mediação Imobiliária Norte-Americano que depois pretendia expandir para o resto do mundo, após uma análise intensa de todo o mercado achou que ainda não seria a altura, até agora ainda não entrou, mas… fiquem atentos!
Comentários (1)
Patricia Alves Figueiredo
22 de Agosto, 2018