Uma casa para toda a vida continua a fazer sentido?
Entrevista Massimo Forte Idealista News
Recentemente fui abordado pelo Idealista News para falar sobre o ciclo de vida das casas e como este acompanha o ciclo de vida das pessoas: os estudos, o trabalho, o casamento/divórcio, o crescer de uma família, a velhice…
Estas foram as 11 perguntas que o Idealista me colocou e as respostas que dei sobre o tema e sobre a minha visão de uma casa para cada momento:
1.É certo que há uma casa para cada momento vital, mas a oferta nem sempre consegue dar resposta a estas transições… quais são habitualmente as casas mais procuradas e mais difíceis de encontrar?
Na minha opinião, as casas mais procuradas e mais difíceis de encontrar variam de pessoa para pessoa, de região para região e muito importante, variam de acordo com o tipo de investimento pretendido ou estilo de vida pretendido.
Por exemplo:
Casas a preços acessíveis em áreas urbanas. A proximidade e mobilidade são comodidades valorizadas e muito procuradas por famílias e jovens profissionais. Infelizmente a oferta, atualmente possivelmente no futuro é muito inferior à procura.
Casas a preços acessíveis em áreas com garantia de mobilidade. A mobilidade é cada vez mais um fator determinante para a procura. Seja por questões de melhoria de sustentabilidade ou de custos, a mobilidade facilitada através de transportes públicos, ou vias de acesso rápido a centros urbanos é claramente uma tendência e será cada vez mais o caminho para aliviar a pressão dos centros urbanos e desenvolver zonas satélite como uma verdadeira alternativa.
Casas com proximidade de boas escolas: Para as famílias que valorizam a educação de seus filhos, esta característica dita muitas vezes a escolha do local onde escolhem viver, não é por acaso que a procura e preço de casas que oferecem este benefício sejam mais elevadas quanto mais próximas.
Casas em zonas seguras: A segurança é um valor que tem vindo a ser cada vez mais apreciado. Seja o significado de segurança um condomínio fechado ou uma zona de menor densidade populacional.
Casas específicas em áreas de alta procura ou de alto potencial de crescimento económico e baixa oferta ou oferta adaptada: Para investidores com capital disponível casas com características distintivas em locais de alta procura ou alto potencial são sempre uma boa aposta. Capacidade financeira e visão de tendências e potencial são essenciais.
Casas mais funcionais e sustentáveis: acredito que seja uma tendência de procura cada vez maior para jovens ou para pessoas que já estão numa fase de vida em que a casa precisa de satisfazer funções básicas de forma sustentável sem necessidade de grande espaço, apenas de espaço mais bem pensado e organizado. A praticidade e sustentabilidade terão um papel cada vez mais fundamental como fator de escolha.
Casas para viver em sintonia com a natureza: casas refúgio, casas auto suficientes, casas que permitem um estilo de vida menos citadino e stressante porque têm mais espaço, ou características específicas, como piscinas, vista para o mar, jardins amplos ou recursos ecológicos podem ser difíceis de encontrar devido à dicotomia de querer estar afastado, mas gozar de mobilidade e proximidade a infraestruturas essenciais. Muitas famílias optaram por mudar-se para o campo na pandemia, mas infelizmente perceberam que a dificuldade de garantir acesso a estruturas básicas de por exemplo saúde, falavam mais alto e definiam uma nova vontade de mudança.
A população, os estilos de vida e as tendências do mercado imobiliário mudam ao longo do tempo, é importante estar atento ou acompanhar agentes imobiliários locais para obter informações específicas tendências e oportunidades.
2. O atual nível de preços torna esta ambição mais difícil?
O atual nível de preços, o acesso ao crédito e a falta de opções de arrendamento adia a ambição de mudar, ou acelera a necessidade de mudança em casos de incapacidade financeira de suportar os financiamentos contraídos num passado recente.
3. Seria exequível/importante, pensar numa estratégia habitacional macro para criar oferta “para cada momento”?
Sem dúvida. A mobilidade e infraestruturas são fatores macro a considerar para desenvolvimento de políticas de habitação que façam sentido. A criação de oferta de produto para públicos específicos também, famílias, estudantes ou jovens e idosos são um exemplo de que cada fase obriga a necessidades específicas, especialmente os idosos, quantas e quantas habitações não poderiam ser libertas se houvesse a criação de habitações com características, ameneties e serviços próprios para este target? Não estou a dizer nada de novo, o que falta é passar do papel para a ação e isso significa a flexibilização e apoio a políticas de investimento e habitação que possam resolver questões estruturais através da criação rápida de casas para potenciar sustentabilidade, mobilidade, adaptabilidade, comunidade e por conseguinte, qualidade de vida.
4. O que é que procura um estudante, por exemplo?
Se eu fosse estudante procuraria um espaço onde pudesse dormir flexível com o meu espaço de casa de banho num edifício com ameneties associadas tipo ginásio, lavandaria, espaço de refeições rápidas, mini mercado e espaço de costudy ou coworking para potenciar sentido de partilha e comunidade. Na verdade, o mesmo raciocínio poderia ser aplicado a idosos que procuram ter uma vida mais facilitada com um espaço onde possam viver rodeados de mais serviços e mais sentido de comunidade, a solidão é sem dúvida um problema que em Portugal ninguém está a resolver no âmbito de projetos construtivos, faltam verdadeiros incentivos.
5. Que tipo de casa seria a “ideal” para uma jovem família?
Depende muito de estilos de vida que se queiram ter. Já não sou jovem, mas tenho dois filhos de 7 e 14, para mim é fundamental a regra de 15 minutos a pé de tudo. Têm a possibilidade de ir a pé para a escola, para acesso a transportes, para ir ter com a família e para estar com os amigos sem depender dos pais para os levar a qualquer lado. Também seria muito interessante ter soluções construtivas adaptáveis para famílias que veem a família a crescer.
6. Quando os filhos saem de casa há tendência a procurar uma casa mais pequenas? Habitualmente, estes proprietários colocam a casa à venda ou para arrendar? E procuram comprar uma outra casa ou optam por arrendar?
Bem, não posso emitir opinião sem dados concretos de um estudo sobre o tema. Mas diria que por aquilo que observo e tenho conhecimento de várias interações com várias marcas, agências, agentes, promotores e investidores, diria que há de facto essa tendência, mas ainda não está suficientemente desenvolvida. Vejo esta necessidade como uma verdadeira oportunidade para desenvolver soluções que valorizem o arrendamento permitindo que seja deixado posteriormente um legado, a posse é ainda uma característica extremamente vincada em gerações mais velhas e mesmo ainda jovens em Portugal, mas trabalhar a posse de uma forma mais sustentada a nível financeiro, isso sim, seria interessante.
7. E na velhice? Poderiam pensar-se as casas ou prepará-las melhor para esta fase da vida? Em que medida?
Já falei atrás das necessidades que entendo serem cruciais. Pensar em construir para gerar um verdadeiro sentido de comunidade é essencial para facilitar acesso a necessidades como saúde, alimentação, manutenção e principalmente atividades promotoras de atividade e convívio para combater a solidão.
8. Apesar das várias transições, queremos uma “casa para a toda a vida”. Porquê? Em média quantos anos uma família mantém uma casa?
A ideia de casa para toda a vida está cada vez mais em desuso. Apesar de comprarmos a pensar que a casa será para toda a vida, a verdade é que a vida dá muitas voltas!
Em Portugal, num mercado médio, a tomada de decisão e rotatividade acontece num prazo médio de cerca de 7 a 8 anos.
Esta frequência pode variar consideravelmente de acordo com diversos fatores, incluindo cultura, localização, fase da vida, situação familiar, trabalho e preferências ou necessidades pessoais.
Seria um bom teste perguntar a pessoas entre os 40 e 60 anos quantas vezes é que mudaram de casa? Não interessa se foi por compra ou arrendamento, desde que saíram da casa dos seus pais, e ainda quantas vezes os seus pais mudaram.
9. Que tipo de casa é esta? É uma casa de família? Com que características? Há um número de quartos ideal?
Eu diria que o T2 é o mais consensual, pois permite iniciar um percurso de vida adaptando uma divisão extra a cada fase, por exemplo pode ter um escritório ou pode ter um quarto para um bebé ou dois, alargando a decisão de mudar. Mas tudo isto só faz sentido se a vida das pessoas se mantiver sem grandes alterações, por exemplo, hoje a mobilidade profissional é cada vez mais uma realidade.
Eu sempre fui adepto do arrendamento para viver e compra para investir, desta forma a casa ideal pode ter uma maior liberdade de escolha.
10. Um projeto habitacional para novos, famílias e mais velhos, pensado em torno do sentido de comunidade e entre ajuda (nas diferentes fases da vida). É uma utopia?
Não, como disse atrás é uma necessidade e já existem exemplos, como no Japão.
11. A construção modular (com capacidade de se adaptar a diferentes realidades) seria uma opção interessante?
Considero que sim, mas tem de haver uma grande evolução de mentalidade, incentivos reais e garantia de qualidade de construção e durabilidade. A posse passa a ter um cariz temporário mais definido e talvez trabalhando estas soluções a par de uma determinação de posse diferente, possa ser um caminho.
Se querem ficar a conhecer mais opiniões sobre o tema, sugiro que leiam a entrevista na íntegra com a resposta de vários convidados às mesmas questões centrais aqui
Entrevista de Massimo Forte para Idealista News