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Será que o contexto de pandemia e a gestão de processos à distância com recurso a tecnologia trouxeram novos desafios éticos aos profissionais?
Na minha opinião não será a pandemia, nem a gestão de processos à distância com recurso à tecnologia que vai despertar novos desafios éticos aos profissionais da Mediação Imobiliária. A ética é uma atitude, um comportamento que se aplica e que não está associado, a meu ver, a canais, a tecnologia ou a apps.
Se formos analisar porque é que os MLS’s em Portugal, em Espanha e ainda noutros países não funcionaram nem chegaram a existir, vamos verificar que em nada teve a ver com a tecnologia, mas sim com a atitude e competência das pessoas envolvidas. A competência tem de se incorporar na atitude e na ética, tem obrigatoriamente de estar presente no nosso dia-a-dia em todos os processos e ações.
Antes de se pensar em desenvolver ou aplicar qualquer tipo de tecnologia, tem de se pensar em comportamentos e atitudes que devem ser seguidos e a partir daqui, tem que se criar um código de ética que sirva de guia para assegurar a uniformização do setor.
Que principais princípios éticos devem guiar a ação de um mediador imobiliário?
Em primeiro lugar será importante definir o papel do mediador, do agente e no limite até do consultor imobiliário para que não se confundam e se incorra desde o início à definição ou assunção de princípios errados.
O mediador detém uma licença AMI e por norma, é o dono do negócio de uma agência imobiliária. Rege-se pela lei e não existindo código de ética em Portugal, deverá pelo menos definir as regras de como os seus profissionais devem atuar e comportar-se entre eles. Estas regras de boa conduta deverão fazer parte do manual de procedimentos.
Se o mediador tem uma agência imobiliária, os seus colaboradores são agentes imobiliários e não consultores. Os agentes imobiliários em Portugal não têm licença, em tempos tiveram-na e eram denominados de Angariadores Imobiliários. O seu trabalho baseia-se na representação do seu cliente ao nível da transação imobiliária, seja para venda, compra ou arrendamento operando através da licença do mediador, de notar que muitos podem reunir numa só pessoa a função de mediador e agente imobiliário. O objetivo do agente imobiliário é o de concluir a transação e normalmente, só nesse momento serão remunerados.
O consultor imobiliário não está exclusivamente nem forçosamente ligado à transação, como o nome indica, presta um serviço de consultoria, ou seja, aconselha pessoas sobre o melhor investimento de transação seja ele comprar, vender ou esperar e é remunerado por esse trabalho caso haja ou não uma transação.
Não haveria espaço neste artigo para explicar os princípios éticos fundamentais que devem guiar a ação de um mediador imobiliário, pois existem também e pelo menos três tipos de pessoas que o mediador terá de ter em conta para definir atitudes e comportamentos:
- Clientes;
- Interessados;
- Parceiros de atividade.
Assim sendo vou mencionar os princípios éticos que considero básicos e mais importantes para cada uma destas pessoas nesta atividade.
Para com o Cliente:
- Respeito pela confidencialidade;
- Obrigação de restituição do que não lhe pertence;
- Defesa dos seus interesses durante todo o processo negocial.
Para com o Interessado:
- Garantir a Estabilidade do negócio;
- Disponibilização de informação não confidencial de forma assertiva e correta;
Para com Parceiros de atividade:
- Lealdade e transparência (não se pode ganhar tudo a todo o custo);
- Respeito do requisito de exclusividade;
- Respeito pelo acordo de Remuneração de Partilhas.
A comunidade da mediação imobiliária pode contribuir para garantir que os seus profissionais trabalham de forma ética?
Mais uma pergunta que levaria aqui a uma resposta muito extensa… Arrisco-me a dizer que há tudo para fazer e que não passa apenas pela mudança da lei da mediação que nesta altura seria mais que bem vinda para todos: mediadores, agentes, clientes e potenciais clientes ou interessados.
A elaboração ou porque não, a adoção de um código de ética evoluído como o da NAR e principalmente, o compromisso de cumprimento do mesmo, poderia ser o primeiro passo para a credibilização e transparência que este setor tanto necessita a par da:
- Necessária certificação de agentes imobiliários;
- Formação obrigatória para agentes e mediadores como garantia de níveis de serviço;
- Criação de modelos de partilha que originassem informação fidedigna para todos os players deste mercado.
A responsabilidade como muitas vezes se diz, não é de todos, a responsabilidade é definitivamente das associações que pouco ou nada têm feito no sentido de criação de medidas concretas para a profissionalização do sector. Nos Estados Unidos a NAR existe desde 1908 e surge com um primeiro grande propósito: a regulamentação do sector e sua consequente profissionalização, assumindo este propósito como a missão e razão da sua existência.
Entrevista completa publicada parcialmente na revista REAL ESTATE do CRS Portugal.
Sou novo nestas lides, e vejo que tenho uma rica jornada de aprendizado com estas maravilhosas lições, pois, já estou na caminhada! Obrigado e Bem Haja!
Obrigado Nuno, estou ao seu dispor.