10 de Fevereiro, 2016

2010 – 2015 Uma retrospetiva do mercado imobiliário no Brasil!

Massimo Forte
Jorge Garcia Portrait

2010 – 2015 Uma retrospetiva do mercado imobiliário no Brasil!

O meu percurso profissional nos últimos 5 anos é indissociável de uma retrospetiva histórica do mercado imobiliário brasileiro. É um pouco da experiência vivenciada que aqui partilho.

2010 foi um ano de retoma do mercado imobiliário no Brasil, superados os efeitos da crise financeira global iniciada em 2008. Focados novamente no mercado interno, os empresários retomaram em bom ritmo os “lançamentos” imobiliários. O crédito imobiliário iniciou um ciclo de crescimento como negócio, beneficiando do incremento da Poupança e dos montantes arrecadados pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Foi a partir desse ano, que o sector da construção e do imobiliário passou a viver uma “boa crise”; uma “crise” de crescimento do lado da oferta, condicionada por escassez de mão- de- obra especializada, materiais e equipamentos de construção, o que provocou um generalizado atraso na produção e entrega das unidades residenciais requeridas por uma nova dinâmica da procura da classe A e das classes médias emergentes.

Recorde-se ainda, que 2010 foi o ano do início de implementação do programa “ Minha Casa, Minha Vida”, que permitiu o acesso à habitação própria por parte de estratos de população com menor poder aquisitivo. Foi o início de um “boom” da cadeia produtiva da construção e do imobiliário, com a geração de milhares de novos empregos e aumentos da sua massa salarial. Consolidaram-se em 2011, as boas notícias internas. Com a inflação controlada e uma taxa de desemprego abaixo dos 5%, o sector prosseguiu o ritmo de crescimento. Também a evolução positiva dos recursos afetos ao crédito habitacional, SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) e FGTS viriam a beneficiar o crescimento do número de unidades residenciais vendidas e VGV (Volume Geral de Vendas) em todo o Brasil. 2012 seria o ano do início de um ciclo de ajustamento, com um ligeiro arrefecimento da Oferta, mais por cautela devido à evolução desfavorável da conjuntura económica internacional e por impedimentos de cariz burocrático.

Começava-se a fazer sentir com maior evidência, o chamado custo – Brasil; excessiva burocracia e morosidade nos processos de licenciamento. Conselho básico que sempre fui dando a empresários que iam chegando do exterior; sejam pacientes … mantenham a calma e tenham sempre muita paciência. No Brasil seja brasileiro; tudo tem de parecer difícil, o “timing” de resposta dos diferentes poderes a qualquer solicitação é longo, as tomadas de decisão dependem da interpretação e poder discricionário de cada decisor, mas no fim tudo acaba por acontecer. Vão perder-se tempo e dinheiro desnecessários. Os custos e prazos de retorno de investimento terão de tornar-se flexíveis. Quem chega de fora, vai sempre ter grande dificuldade em entender, a ausência de uma cultura de planeamento. Multinacionais e empresas exportadoras são algumas das exceções. Talvez por isso a grande dificuldade que pequenos, médios e mesmo grandes empresários brasileiros têm de “planejar”. Navega-se à vista e esse “saber fazer” no Brasil tornou-se uma vantagem competitiva. Em 2013 tendo-se mantido o pleno emprego, os níveis de renda, o volume de financiamento à compra de habitação e a expectativa de elevados investimentos estatais em infra – estrutura, o mercado imobiliário manteve-se numa rota de crescimento. Pessoalmente foi um grande ano no que se refere aos resultados operacionais obtidos. Em Fortaleza, obtivemos os melhores resultados de sempre no que se refere a unidades vendidas e faturação. O ano seguinte viria a revelar- se como um ano atípico e que pronunciava o que viria a acontecer em 2015.

Inflação a ultrapassar os 6% e um crescimento do PIB próximo de zero, um carnaval tardio em Março, a realização da Copa do Mundo que paralisou o País durante 2 meses e no final do ano as mais disputadas eleições presidenciais da história da democracia brasileira, tiveram repercussões negativas no mercado imobiliário em virtude de sucessivos adiamentos das decisões de compra. Em 2014,o mercado imobiliário encerrou com um desempenho de vendas muito abaixo das médias que se haviam verificado nos últimos anos. Em função de uma conjuntura política e económica que se agravou e muito no decorrer de 2015, o mercado imobiliário teve de se reajustar e irá ter de continuar esse caminho em 2016. São conhecidas as implicações negativas que o aumento do desemprego, a diminuição do poder de compra e a instabilidade política têm no mercado imobiliário. Não se vislumbram nos próximos tempos melhorias no que se refere à recuperação do crescimento e de outros indicadores económicos. O Brasil vive um dos piores momentos da sua história mais recente e isso reflete -se negativamente no sector da construção e do imobiliário. Mas por outro lado, com uma inflação galopante, o investimento em bens imobiliários, imóveis e lotes de terreno, é um dos refúgios de poupança mais seguros. Conheço a capacidade empreendedora dos empresários e também a sua enorme resiliência à adversidade. Chegam-me bons exemplos, particularmente do nordeste brasileiro. Acredito que o Brasil retomará a sua trajetória de progresso e desenvolvimento económico e o mercado imobiliário irá retomar o seu crescimento. Até porque as necessidades habitacionais dos brasileiros irão continuar por satisfazer.

Artigo escrito por  Jorge Garcia

Consultor de franquias; especialista em imobiliário

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