25 de Outubro, 2017

AS 4 TENDÊNCIAS QUE A MEDIAÇÃO TERÁ DE TER EM CONTA

Massimo Forte

Este ano em Agosto tive a oportunidade de participar na Expo Real Estate de Buenos Aires.

Fui convidado para fazer uma pequena apresentação sobre factos e oportunidades no mercado imobiliário português e sobre a importância do serviço prestado pelo Agente Imobiliário num processo de transação em Portugal.

Aproveitei também para assistir a vários Workshops, pois decorria ao mesmo tempo, e no mesmo local, o 9º Congresso sobre o Mercado Imobiliário da Argentina. Uma das apresentações mais interessantes a que assisti tinha como tema as Tendências do Mercado Imobiliário Global e em especial da América do Sul. Não podia deixar de partilhar convosco o resumo e conclusões do tema apresentado:

 

COWORKING

Os espaços de cowork são cada vez mais uma tendência a considerar devido à clara mudança na forma como as pessoas trabalham hoje. Claramente uma tendência impulsionada pela tecnologia, mas não só, pois para além do acesso, proximidade e mobilidade que a tecnologia nos proporciona hoje, não nos podemos esquecer que as mudanças dos modelos de negócio e de trabalho surgem antes. Por exemplo, há cada vez mais a tendência de empreender, mesmo quem é atualmente empregado procura uma liberdade de horário e local de trabalho, o que revela que existe uma clara vontade de trabalhar sobre sistemas de meritocracia onde o cumprimento de objetivos, sejam eles quantitativos ou qualitativos, formam o resultado de cada profissional na sua área de atividade. Existem muitas pessoas que acreditam que esta tendência trará algum individualismo, o que se falou nesta apresentação e com o qual estou inteiramente de acordo, é que estes modelos criam cada vez mais uma necessidade e motivação para partilha de várias formas de trabalhar e de várias situações de casos de sucesso que antes não se expunha tão abertamente.

Tudo se tornou muito mais flexível, o tempo é gerido por cada pessoa de forma livre, as agendas são e continuarão a ser da responsabilidade de cada um, não serão geridas por terceiros.

Mas como saber se de facto o coworking é uma tendência que irá continuar? A resposta está na geração Millenial que está totalmente preparada e adaptada para se formatar a estes modelos pois a deslocação e flexibilidade para eles não é nada de novo nem estranho, antes pelo contrário, é o que consideram lógico.

 

COLIVING

Se o coworking para alguns já era algo assumido, o coliving é quase uma consequência lógica para as últimas gerações, basta falar com pessoas que farão parte do nosso futuro e verificar alguns conceitos muito interessantes e totalmente atuais. O conceito de vivência ou convivência está a mudar, as pessoas querem viver em comunidade, partilhar talvez em comunidades mais pequenas e definidas para poderem ter o mesmo poder de flexibilidade, o que quer dizer que não querem estar presas a um imóvel, seguem sim um estilo de vida. O estilo de vida ganha uma extrema importância, o que quer dizer que a habitação tem de começar a ser pensada não apenas na sua forma física, mas na envolvente do que proporciona com todos os serviços e comodidades associados a um determinado estilo de vida, como por exemplo: ginásio com zona de meditação e relaxamento, acesso a multimédia, a serviços de lavandaria, alimentação, saúde etc. e se possível interligando tudo através de Apps que tornem todos estas comodidades e serviços automatizados, rápidos e personalizados recorrendo à tecnologia de AI. Aplicações como a Airbnb, Uber ou outras que nos permitam identificar, monitorizar ou interligar pessoas e necessidades, terão um papel fundamental na futura economia compartida em que o coliving se encaixa perfeitamente. Não é verdade que os jovens comunicam menos ou são menos emocionais, antes pelo contrário, a única coisa que muda é a forma e os canais que eles utilizam para o fazer. Nascem como seres individuais, mas querem cada vez mais viver em comunidade e vão poder fazê-lo apoiando-se nas tecnologias que os aproximam de pessoas com interesses e necessidades comuns, as redes sociais são hoje já um bom exemplo.

Muito importante referir que apesar destas tendências de simplificação e facilidade, cada vez mais se exige serviço, resposta e qualidade que se pretende que seja rápida, fácil e acessível. O futuro é hoje, e neste Congresso conheci vários projetos imobiliários já realizados e em curso apoiados no conceito de coliving

 

DESINTERMEDIAÇÃO

Falou-se muito da desintermediação imobiliária, chocando muitas pessoas mais resistentes e que com um certo medo se recusam a aceitar esta tendência procurando criar alterações legais (neste caso específico na Argentina) para obrigar a que a mediação imobiliária seja obrigatória para todas as transações, não permitindo assim um eventual perigo de extinção da profissão.

Algumas áreas ligadas a determinados serviços vão sentir de facto esta tendência vendo desaparecer profissões, pelo menos da forma como as conhecemos hoje. Estima-se em diversos estudos que são cerca de 50 profissões, entre elas, a profissão de agente imobiliário. Claro que estamos falar da profissão como a conhecemos hoje, na sua forma mais escassa e rudimentar como: mostrar casas; colocar anúncios na internet; tratar de documentação (cada vez mais rápida e digital); etc. Existe contudo uma variante clara na profissão, pois cada vez mais as pessoas vão precisar de um especialista imobiliário que será cada vez mais um consultor, ou quem sabe um representante, que garanta confiança, domínio da forma de consulta e interpretação da informação disponível e capacidade de negociação, estes serão definitivamente os pontos a ter em conta, bem como a capacidade no trato e na forma. Os profissionais desta e de outras áreas vão ser cada vez mais técnicos de pessoas, e cada vez menos de imóveis, a tecnologia irá substituir grande parte das tarefas que os agentes imobiliários fazem hoje, tornando-os cada vez mais concentrados na especialização da informação e na adaptação da mesma às necessidades de pessoas, passamos de vendedores a consultores ou conselheiros. Esta tendência já se demonstra cada vez mais próxima, pois se não se aporta valor ao nosso cliente, não se é relevante. O pós-venda, o trabalho dos CDI, a capacidade de envolvência com a comunidade e o reconhecimento e confiança comprovada como alavanca de tudo o que falei, vai fazer com que muitos profissionais desta área desapareçam de facto, mas apenas para dar lugar aos que respeitam e compreendem esta tendência.

 

VELOCIDADE

O mercado imobiliário sempre foi, e talvez ainda seja conhecido como um mercado lento, com tempos de absorção vagarosos e com um excesso de burocracia. Na Europa, Estados Unidos e em Portugal em específico, talvez esta fase já tenha começado a sua viagem de mudança, observe-se por exemplo os prazos de tramitação hoje e os que existiam há 20 anos, nada a ver. Talvez na América do Sul não seja ainda tão claro. Os processos mais céleres de tramitação vão provocar uma natural evolução na rapidez das transações, tendo também uma repercussão direta nos ciclos imobiliários mais curtos que temos estado a assistir nos últimos anos. Tudo vai ser digital e com cada vez menos burocracia, o que representa não só uma clara adaptação das agências imobiliárias, bem como das pessoas que são responsáveis por estas tarefas.

Concluindo, há que ter em conta que hoje as mudanças são mais rápidas e também mais evidentes devido à facilidade e acessibilidade da informação, quem estiver atento ao mercado e às suas alterações, quem se souber antecipar, adaptar ou talvez reinventar, vai continuar a estar no mercado, e quem sabe, vai tornar-se num líder neste, os outros irão atrás ou desaparecerão de forma natural.

Artigo publicado no blog out-of-the-box.

 

Comentários (2)

vtorvitorinoo

29 de Outubro, 2017

Matéria com muito interesse. Partilhei. Muito obrigado.

Enrique De Ahumada y Ramos

26 de Outubro, 2017

Muito interessante.

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